“Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão.” (Mateus 18.15)
Não há como convivermos em família, em grupo, numa comunidade ou numa sociedade, sem que, em algum momento, nos sintamos ofendidos ou venhamos a ofender a alguém. Precisamos de vários protocolos para lidar com as ofensas, pois elas podem ser as mais diversas e de várias naturezas e gravidades. Algumas não exigirão atitude alguma. Serão como fumaça para ambas as partes. No ambiente familiar há muitas desse tipo e entre amigos íntimos. Mas podem acontecer outras cuja solução ou modo de resolver precisa envolver processos judiciais até, e podem terminar em condenações severas. É o caso de um marido que abusa da esposa, seja física, moral ou emocionalmente. Essa é uma ofensa que não pode ser tolerada e não deve ser negociada. Deve ser denunciada e tratada segundo o rigor da Lei.
Na igreja também acontecem ofensas e o texto do Evangelho está trazendo orientações sobre isso. As comunidades cristãs do primeiro século eram relativamente pequenas, íntimas e relacionais. Diferente da prática do templo, suas reuniões davam-se em caráter relacional, majoritariamente na casa uns dos outros. Uma desavença comprometia o culto seriamente. Diferente de hoje, com nossas reuniões no templo, guardadas por uma liturgia, em que os irmãos ofendidos podem se contentar em sentarem-se distantes. Mas isso não é solução, claro! Se não atrapalha “o programa do culto” uma desavença entre dois irmãos, o conflito entre eles fere o espírito da igreja e ofende sua natureza, que é ser Corpo de Cristo. Infelizmente, com frequência, questões não são resolvidas do modo adequado na dinâmica de uma igreja. E eu e você somos parte do problema e devemos contribuir com a solução.
Temos no texto uma orientação para ser usada quando necessário. Mas o que determina mesmo a solução de problemas é o coração. Se escolhermos o amor como princípio de vida, pecaremos menos uns contra os outros e resolveremos mais facilmente qualquer problema que por acaso aconteça. O objetivo da orientação do texto bíblico não é a punir, mas promover a reconciliação. Por isso, seguir os passos de Mateus 18 não significa, por si só, ter feito a coisa certa. Dependerá do coração, do amor com que estamos lidando com a situação que queremos resolver. Nossa fé não se sustenta em regras, protocolos, métodos. O Reino de Deus é o Reino do amor, da misericórdia e da graça. É o Reino da reconciliação. Quando enfrentarmos problemas devemos lembrar do dever de perdoar, não sete, mas setenta vezes sete. Devemos lembrar do princípio de andar mais uma milha e de sempre tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. Com um pouco de humildade e amor, poderemos ser um exemplo para o mundo sobre como superar erros, perdoar ofensas e resolver problemas. Esta é uma vocação da igreja, esta é a vocação de cada cristão! Está disposto, está disposta, a fazer parte da solução?