Liderança indígena concede entrevista e passageiros reclamam de falta de suporte em viagem

A BR-101 foi interditada por indígenas Pataxó na entrada do Parque Nacional de Monte Pascoal, desde as 10 horas da manhã de quarta-feira (27), em protesto pela demarcação do território e pela libertação de 11 indígenas presos. A manifestação paralisou totalmenteo trânsito e afetou, inclusive, passageiros de ônibus que seguiam para diferentes destinos na região.
Uruba Pataxó, secretária do Conselho de Caciques do Território Barra Velha, afirmou, em entrevista, que o protesto tem dois objetivos principais: pressionar o Governo Federal e o Governo da Bahia pela demarcação do território e exigir a libertação de 11 indígenas presos, que, segundo ela, foram detidos de forma injusta.

“Nós iniciamos ontem a paralisação e os momentos são de três dias e pode ser contínuo. A finalidade dessa paralisação é para mostrar para o Governo do Estado da Bahia e ao Governo Federal que esse território é o território do povo indígena, do povo originário dessa terra”, declarou Uruba. Ela citou que o território já teve seu estudo concluído desde 2009, foi publicado no Diário Oficial da FUNAI e, em 2019, teve decisão favorável no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ainda segundo a líder, o processo de demarcação já chegou ao Ministério da Justiça.
Além disso, Uruba criticou a prisão dos indígenas, que foram acusados de envolvimento com facções criminosas e invasão de terras. “Vamos mostrar pra eles que nós não somos esse supostamente índio que eles falam. Nós somos indígenas, Pataxó dessa terra. […] Para nós, essa prisão é ilegal”, afirmou.
A líder indígena também denunciou a falta de investigações sobre assassinatos de indígenas na região. “Quem matou Vitor? Quem matou Nauí? Quem matou Samuel? Quem matou Gustavo? E quem são esses mandantes? Nós temos áudios que mostram que fazendeiros mandaram matar nossos indígenas. A polícia tem isso em mãos, a justiça tem isso em mãos, e até hoje a gente não vê uma operação acontecendo”, questionou.

Bloqueio da rodovia e transtornos para passageiros
A interdição, iniciada na quarta-feira (27) e mantida nesta quinta-feira (28), tem previsão de durar até três dias ou de forma contínua, segundo os manifestantes. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) orientou motoristas e empresas de transporte a não aguardarem no local, devido à indefinição sobre a liberação da via. O protesto começa pela manhã e tem permanecido até as 17 horas, todos três os dias.

Passageiros de um ônibus leito da empresa Águia Branca, que saiu de Salvador com destino a Teixeira de Freitas, foram deslocados para Montinho, um distrito a cerca de 10 km do bloqueio, onde puderam aguardar com alguma estrutura básica.
No entanto, a viagem se tornou ainda mais longa e desgastante quando, após a liberação da rodovia às 17h, os passageiros precisaram trocar de ônibus em Itamaraju. O novo veículo apresentou problemas mecânicos, resultando em uma espera de mais de duas horas em um posto de combustível até que outro ônibus chegasse para completar o trajeto.
Segundo passageiros, a empresa Águia Branca não ofereceu suporte alimentar aos passageiros durante o período de espera. Até por volta de 20h, eles não haviam chegado ao seu destino.
Contexto da manifestação
A interdição ocorre em meio a tensões entre comunidades indígenas e produtores rurais no Extremo Sul da Bahia. Na semana anterior, a Polícia Civil da Bahia deflagrou a “Operação Pacificar”, visando cumprir 12 mandados de prisão e sete de busca e apreensão em propriedades rurais no município de Prado.
Segundo a polícia, as investigações apontam para a atuação de grupos armados que, sob a justificativa de retomar territórios ancestrais, estariam cometendo ameaças, saques e mantendo vítimas sob restrição de liberdade.
A operação teve o objetivo de desarticular essas ações e restaurar a segurança na região, que tem sido palco de conflitos recorrentes. Medidas semelhantes já foram adotadas em outras áreas do estado para conter episódios de violência e garantir a ordem pública.
O jornal O Sollo segue acompanhando o caso e reforça que está aberto para ouvir os diferentes posicionamentos sobre o assunto, inclusive citados nesta reportagem.
Eu acho que o protesto é direito de todos. Mas atrapalhar a vida de outros eu não concordo.