Faleci ontem, pelas sete horas da manhã. Já se entende que foi sonho; mas tão perfeita a sensação da morte, a despegar-me da vida, tão ao vivo o caminho do céu, que posso dizer que fiquei muito leve.
Ia subindo, ouvia já os coros de anjos, no infinito. Alegrei-me com isto, posto já não pertencesse à terra. Cheguei a lembrar-me, apesar de ir no caminho do céu, de tudo que vivi, era tenho certeza o ano de 2043. Mas entrei em guerra. Em guerra com o meu sonho, com este mundo invisível, acordei e sentei-me na cama.
O sonho é como a ficção ou a ficção é como o sonho. Desde que comecei a escrever crônicas, percebo e sinto profundidade essa via de mão dupla. A memória é como um tipo de sonho, ou vice-versa.
Por mais que você se esforce para conduzir a escrita de forma organizada, o contexto vai para um lado, vem para outro e, de tantas idas e vindas, ele acaba se perdendo.
Mas sonhos são leves quando não são pesadelos, o importante
é o poder de desligar da realidade. Viver e não conseguir sonhar é o mesmo que estar de olhos abertos sem poder enxergar.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.