Esta linha azul, de ser imunizado, está ainda longe da maioria, tanta coisa acontecendo, mas tenho a sensação de que estamos parados, pois o foco é a imunização, ninguém pensa em sonhar com outros projetos. Todos os dias filas de carros e pedestres aguardando a agulha abençoada, ninguém quer a morte horrível por falta de ar. Agora, vivemos nas areias movediças do medo, velhos apoiados em bengalas nas filas, atraídos pelo belo hábito de viver.
Para todos os lados que olhamos a expressão mais ouvida é ” vacina sim”, mas o cerco do vírus a todos nós está cada vez mais ameaçador e para muitos não caminharem para a morte, a intensificação da vacinação é urgente. Penso nesta sombra dolorosa que persegue há um ano nossas vidas. Evoco-a neste momento sozinho, e com uma espécie de religiosa emoção lembro quando tudo começou na minha vida, foi o dia dezesseis de março de 2020, fui fazer uma perícia em Laudo de Feiras na Uneb, de uma funcionária que trabalhava no laboratório de anatomia, ao chegar, já existindo rumores do coronavírus, informou que ia fazer o teste de covid, pois estava com febre, então disse que ia suspender a perícia, mas ela foi de ônibus, e pediu para que fosse feita, fiz.
Hoje, um ano depois, silenciosamente penso neste momento, a essas imagens iniciais da pandemia. Muitos não ligam para nada, vivem alienados, estou sozinho, numa noite quieta, escrevendo gravemente em honra de tantos dramas no nosso país. Acredito que os brasileiros de hoje são mais radicais, a bússola interna ou é norte ou é sul, isto divide o país em pessoas sensatas e insensatas. Sendo, que o lado insensato está vencendo, afundando a todos nós no mar de dor. Essa é a cor do momento atual, um cinza tão profundo que chega a ser negro. Descansarei quando puder abraçar os entes queridos, quando a cor do viver for azul como o céu sem nuvens. Ninguém hoje sabe como será o amanhã, mas em cada um de nós vive o sangue dos que nos geraram, e é algo que anda para trás até a noite dos tempos. Assim, somos apenas a curva de um rio, que vem de longe e não parará depois de nós.
– Então, como é que tem todas as respostas?
Algumas nuvens velam o céu cinzento ainda. Nas calçadas nos centros de saúde, filas com passos de esperança. A escuridão está hoje presente mas vamos olhar o céu azul do amanhã.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.