Tenho saudades de meus tios que eram próximos a mim, hoje ainda gostaria de saber algo sobre eles que não fosse só a morte ou suas míticas vidas, moravam em São Paulo, ele morreu final de 2016 e ela em setembro de 2017. Conhecer também os traços deles deixados na família.
O fantasma da saudade parece uma forma de compreender essas partes deles que sempre foram misteriosas, opacas, que sempre pareceram distantes, mesmo quando estavam bem a minha frente.
A palavra em português “saudade” é celebrimente intraduzível. É não pelo que você perdeu, mas pelo que nunca teve. É algo como sentir falta, mas pode significar sentir falta de um lugar em que eu nunca estive. A praia dos Ingleses em Florianópolis, onde passaram juntos antes de meu tio falecer, ou Fernando de Noronha onde já viúva, fez a sua última viagem. A saudade sugere posse ou companhia, eu tenho saudades. Como se a falta pudesse se tornar um tipo de companhia. Como se pudesse compensar pela ausência em si. Saudade é o nome da dor que sinto quando me remeto aquela imagem deles, na minha última visita a São Paulo com ambos vivos, é uma lembrança que pulsa dentro de mim.