“Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.” (1 Corintios 15.58)
Nesta série estamos refletindo sobre o compromisso cristãos a partir da ideia presente na orientação do apóstolo Paulo para que os cristãos de Corinto fossem sempre dedicados à obra do Senhor, certos de que seu esforço não seria inútil. Temos refletido sobre o que compreendemos ser a obra do Senhor e em que condições ela está envolvida. Ao ler essa recomendação, dois mil anos depois, como podemos responder a ela? Com a organização religiosa que demos à nossa fé, passamos à uma devoção fortemente caracterizada por nossas atividades no templo, em particular nossos cultos onde temos diversos papeis e atividades. Neles vivenciamos uma certa contemplação de Deus, Lhe dirigimos palavras e Lhe ofertamos canções. Claro, há o aspecto pessoal também. Nele lemos as Escrituras, oramos e temos nossos momentos para Deus. Alguns de nos fazem o culto em casa, o que é ótimo. Tudo isso pode nos levar a crer que servir a Deus sejam essas coisas. Dedicar-se a elas seria dedicação à obra de Deus.
Porém essa ideia constitui-se num erro sutil, mas sério. Pensar assim significa um desvio da novidade do Evangelho de Jesus, que nos anunciou que o Reino de Deus veio a nós, que nos anuncia novos caminhos de adoração. Pensar assim significa voltar à antiguidade da relação meramente religiosa com Deus, como faziam os fariseus que foram repreendidos por Jesus. A espiritualidade deles colocava Deus no mesmo lugar que ocupavam os diversos deuses da imaginação humana que, assentados em seus tronos esperam oferendas e declarações elogiosas dos seres humanos. Mas não é assim que Jesus nos revela o Pai. O Deus revelado por Jesus busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23), o que significa bem mais que apenas sinceridade. Os nossos cultos não servem a Deus. Eles servem a nós mesmos. Servem para nos despertar, lembrar a fé que abraçamos, prover orientação para nossa vida, colocar-nos unidos em oração, para fortalecer nosso testemunho. O culto a Deus se dá na vida!
Se dá pela conversão cada vez mais profunda do meu ser a Deus. E especialmente se dá nas minhas relações com as pessoas. Cultuo a Deus quando pratico o amor que Jesus me mandou praticar, quando sirvo como Jesus ensinou e demonstrou que devo servir, quando sou generoso com os necessitados, sejam essas necessidades materiais, emocionais ou espirituais. Por isso Jesus disse que seria servido por nós quando servíssemos aos necessitados, ao faminto, ao doente, ao presidiário, ao estrangeiro, ao carente de roupas… (Mt 25.31-45). Não é que nossos cultos no templo não tenham valor. Eles tem e muito! Perde quem deles abre mão. Mas não são a obra do Senhor! Jamais serviremos a Deus ofertando algum serviço a Deus, pois Ele não precisa e não pode ser servido por mãos humanas (At 17.25). Só podemos servi-lo, servindo ao nosso próximo. O culto a Deus se dá na vida, na relação com o outro, no amor que cuida, serve e acolhe. Dedique-se à obra do Senhor!