“Meus pensamentos são muito diferentes dos seus, diz o Senhor, e meus caminhos vão muito além de seus caminhos.” (Isaías 55.8)
Precisamos levar mais a sério esta mensagem pronunciada pelo profeta Isaías. Os israelitas não estavam compreendendo a própria história e alimentando expectativas irreais sobre Deus. Eles precisavam de mudanças. Precisavam entender que não eram capazes para compreender os caminhos de Deus. Precisavam entender que nada entendiam de Deus. Precisariam crer, depender e renderem-se a Deus.
Precisamos levar mais a sério essa mensagem porque já elaboramos demais as afirmações bíblicas e já escrevemos teologia demais. Porque já organizamos demais nossas igrejas e já definimos demais as doutrinas que nos guiam. Porque nos acomodamos demais à nossa própria história, experiências, ritos, liturgias, regras, normas e costumes. Agimos como se já soubéssemos tudo que precisaríamos saber. E nos fizemos cegos para evidências claras de que há algo errado entre nós.
Ainda fracassamos na capacidade de amar e servir às pessoas. Somos bons para servir à instituição religiosa de nossa preferência, desde que ela corresponda às nossas expectativas. Não sabemos discordar sem ferir. Temos medo de abraçar pecadores, como se não fôssemos pecadores. Temos medo de que algo corrompa nossa fé, como se o Evangelho que nos alcançou fosse vulnerável ao mundo.
Acreditamos que somos os guardiões da pureza e da vida e queremos combater (aniquilar, se possível) os impuros! Melhor faríamos se declarássemos como Paulo: “somos os mais pecadores” (1 Tm 15). Ou como Isaías: “quando mostramos nossos atos de justiça, não passam de trapos imundos” (Is 64.6).
Confundimos Deus com o que pensamos dele. Mas Ele não é o produto de nossos pensamentos, por mais sinceros que sejam ou mais sagrados que os consideremos. Jesus escandalizou os religiosos porque ele era uma contradição de suas próprias tradições e sagradas expectativas. Os heróis de suas parábolas eram anti-heróis na visão dos religiosos. Pródigos, samaritanos, publicanos, pecadoras e pecadores representavam as atitudes e os corações adequados ao Reino que veio anunciar. Quanto aos religiosos, eram os vilões e recebiam sua dura reprovação como hipócritas.
Será que realmente compreendemos o Evangelho? Será que temos o temor de quem compreendeu que nada compreende do Reino de Deus? Até quando amar nos parecerá pouco demais enquanto que, para Jesus, era a base que sustentava tanto as palavras da Lei quanto dos Profetas, ou seja, o fundamento da Bíblia sagrada?
Até quando… até quando pretenderemos ser a congregação dos santos em lugar de nos reconhecer como a comunidade dos perdoados? São estes que conhecerão a santidade! Quanto àqueles, permanecerão em seus pecados.
Os pensamentos e caminhos de Deus não são os nossos pensamentos e caminhos. Não eram antes de nos tornarmos cristãos e continuam não sendo depois que nos tornamos. Precisamos da intervenção do Espírito Santo para sermos guiados. Mas enquanto o amor, a graça e a misericórdia não dominarem o nosso coração, não seremos ouvidos e nem teremos ouvidos e nem olhos para seguirmos pelo caminho do Evangelho de Jesus.