Por Milla Verena
No dia 25 de maio, terça-feira, o ex-governador e presidente do DEM-BA, Paulo Souto, pré-candidato ao governo da Bahia, esteve em Teixeira de Freitas para um encontro regional do partido, DEM.
Durante todo o dia Paulo Souto teve uma agenda cheia, reunindo-se com lideranças políticas.
Na ocasião, também esteve presente Nilo Coelho, pré-candidato a vice-governador, Antonio Imbassahy, ex-prefeito de Salvador e ex-governador da Bahia, deputados estaduais, pré-candidatos a deputados, empresários, representantes de entidades de classes e diversas lideranças políticas regionais.
Na oportunidade, o Paulo Souto concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal O Sollo.
Confira a entrevista na íntegra
O Sollo – É notório, tanto no cenário nacional quanto estadual, o crescente aumento dos índices de criminalidade. Inclusive, em nossa região, mais precisamente em Arraial D’ajuda, houve uma onde de violência muito grande, com toques de recolher e tiroteios, que, infelizmente, vitimou uma adolescente. O que o Sr. tem a dizer sobre essa problemática?
Paulo Souto – Apesar de todas as dificuldades, muitos estados brasileiros têm conseguido até reduzir os índices de violência, através de uma prioridade da área de segurança pública e um sistema de segurança pública eficiente, bem organizado, apoiado pelo governo.
Infelizmente, nossos índices de violência estão crescentes. Para se ter uma idéia, se tomarmos Salvador, comparando 2006 com 2009, o índice de violência traduzidos pelo número de assassinatos subiu a algo próximo a 70 %. Nós já estamos alcançando taxas de homicídios maiores que São Paulo. Por exemplo, em Salvador a taxa de homicídio hoje está se aproximando de 60, enquanto em São Paulo é 11. Essa taxa é o número de homicídios por 100 mil habitantes por ano.
Muitas de nossas cidades já estão com números semelhantes a cidades da Baixada Fluminense, isso mostra um absoluto descontrole. O governo perdeu completamente o controle sobre a questão da violência na Bahia. Salvador hoje é a segunda capital mais violenta entre as capitais brasileiras, e a violência está chegando ao interior, cidades como Itabuna, Conquista, Feira de Santana, Eunápolis etc. estão com índices de violência dos maiores do Brasil. Então, o governo fracassou inteiramente nisso, e é preciso uma transformação completa na área de segurança pública no estado.
O Sollo – Foi veiculado pelo governo estadual que o crack seria responsável por 80% da violência na Bahia. O Sr. concorda com essa informação?
PS – É querer encontrar um desculpa para a ineficiência do governo. O problema da droga é um problema que atinge o país todo. E porque outros estados estão conseguindo reduzir o número de homicídios?
E depois não há nenhuma comprovação de que esse número seja um número verdadeiro. Mesmo porque, a grande maioria dos homicídios não são resolvidos, você não sabe o autor. Então como você pode atribuir que a causa é essa ou aquela.
O governo ao invés disso tem que dá prioridade a segurança pública, refletindo em orçamentos, para não acontecer o que aconteceu no ano passado, quando o estado tinha um orçamento previsto em segurança em torno de140 milhões e gastou 25. Então tem que traduzir num orçamento, tem que traduzir isso na melhoria das condições, em materiais para que os policiais civis e militares possam trabalhar bem equipados, possam trabalhar bem treinados, bem remunerados.
Eu acho que isso é perfeitamente possível. A nossa policia é capaz sim de fazer um plano para reduzir a violência, o governo é que não dá condições para que ela faça.
O Sollo – No ano passado a Bahia sofreu muito com a problema da dengue. Em Porto Seguro, de janeiro a fevereiro a 2009, tivemos cinco óbitos. Além disso, houve também a questão da meningite no estado, com surtos e epidemias. Como o Sr. vê esse assunto?
PS – Essa questão da dengue era uma questão anunciada. O Ministério da Saúde chegou a prever no ano anterior que a Bahia poderia ser o próximo estado que teria problemas com dengue. E o governo do estado não foi capaz de se organizar, de chamar os municípios e fazer um plano antecipado para reduzir a incidência da dengue, sendo apanhado completamente desprevenido. E, por falta de condições de atendimento, muitas pessoas chegaram a óbito. Então, mais uma vez fracassou.
Há coisas mais greves ou tão graves como essa. Há vinte dias, um jornal de grande circulação na Bahia publicou que em 2009 mais de 450 pessoas morreram nos Postos de Saúde da Prefeitura Municipal de Salvador, porque não conseguiram serem transferidos para os hospitais do estado, os hospitais não tinham como receber essas pessoas. Então, isso é uma coisa gravíssima e que continua acontecendo na Bahia por falta de assistência, por falta de atendimento, por desorganização absoluta do sistema de saúde do estado.
O Sollo – Com relação a educação, já está virando rotina greves, salas de aula vazias e analfabetos funcionais. Infelizmente, essa tem sido uma realidade da educação não só da Bahia, mas também do Brasil. Podemos observar que os índices de educação na Bahia não têm crescido. A que o Sr. atribui essa problemática?
PS – Mais uma vez, em outro setor básico, o governo está falhando. Veja que muitas vezes o ano letivo demora de se iniciar porque as escolas estão em reforma, ou porque não há professor para determinadas disciplinas. Problemas tipicamente de falta de gestão. Mas há também problemas que não são de agora, relacionados a qualidade de ensino, ai sim, é preciso avançar muito na qualidade do ensino. Nós já estamos atingindo índices de uma certa universalização, as pessoas, praticamente a maioria delas, estão nas escolas. Mas tem pouco aproveitamento, tem muita repetência, muita evasão, tem muito abandono e, com isso, a qualidade do ensino continua não sendo boa. O estado praticamente não tem feito nada para melhorar isso. Nós, quando estávamos no governo, conseguimos uma grande redução na taxa de distorção entra a idade e a série, e isso dava condições para que essa redução continuasse. Ela está continuando, mas, não no nível que é desejado. De modo que é preciso realmente um grande esforço na área de educação, aumentar muito o número de escolas em tempo integral, tentar junto com os professores discutir uma forma para que a melhoria do aproveitamento dos alunos seja um fator que seja levado em consideração, por exemplo, na remuneração dos professores.
Eu acho que se o governo federal ajudasse os estados, para que esses estados possam montar um sistema em que a remuneração normal dos professores seja aumentada relacionada ao melhor aproveitamento dos alunos, nós poderemos dar um grande passo. Mas, para isso é preciso uma grande cooperação do governo federal, os estados sozinhos dificilmente podem fazer isso no nível que seria desejado. Contudo, é preciso fazer alguma coisa nessa área, estudos que comprovam muito bem isso.
É preciso fazer um grande esforço na área de educação profissional, tanto a área formal de educação profissional, de educação profissional associado ao nível médio ou pós nível médio, mas também na área informal, ou seja, pessoas que estão defasadas, que estão fazendo, por exemplo, supletivo, para terem uma profissionalização que lhes permitam chegar ao mercado de trabalho, para que possam continuar estudando.
Esse é um assunto que tem que ser tratado com muita seriedade, o problema de educação para o trabalho. Claro que a aspiração da pessoa é chegar ao nível universitário, mas, as que eventualmente não conseguirem têm que ter uma forma, tem que estar preparadas para enfrentar o mercado de trabalho.
O Sollo – Já deve ser de conhecimento do Sr. a execução dos professores e sindicalistas da APLB, em Porto Seguro. Execução essa que aconteceu em pleno período de greve da classe, inclusive, logo após esse crime, aconteceu uma série de mortes na cidade, possivelmente queima de arquivo. Quem está sendo apontado pelo Ministério Público como possível mandante dos crimes é Edésio Lima, então secretário de Governo e Comunicação de Porto Seguro. O que o Sr. tem a dizer sobre esse fatos?
PS – É uma situação gravíssima. Se procederam realmente essas denuncias, é uma situação muito grave. E é evidente que o governo demorou, e demorou muito, para tomar medidas para esclarecer definitivamente esses homicídios, que é uma coisa muito grave. Esse homicídio procurava o que? Procurava calar pessoas que eventualmente estavam exercendo uma liderança coorporativa e que foram violentadas até a morte. Isso fere de forma absoluta os direitos humanos e teria que ter uma resposta mais pronta e mais enérgica do governo, que infelizmente não houve.
O Sollo – Sobre a BR 101, sabe-se que ela é a maior malha rodoviária da Bahia e, principalmente, do Extremo Sul. O governo federal anunciou a duplicação desta BR. Em vários estados essa duplicação será significativa, como no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Porém, na Bahia anunciou-se, até o momento, a duplicação de 20 Km, que liga o interior do Espírito Santo ao município de Mucuri, próximo a Itabatã. Como o Sr. avalia essa situação?
PS – É inacreditável que o governo da Bahia aceite sem protestar essa enorme discriminação que é feita contra o estado. É inacreditável que essa estrada atravesse todo o Rio de Janeiro duplicada, vai atravessar todo o Espírito Santo duplicada e entre apenas 20 Km na Bahia.
Está se anunciando um projeto para se chegar a Teixeira de Freitas, a Eunápolis, ninguém sabe quando. O fato que existe agora, inclusive com audiências públicas já marcadas, é que a concessão para a duplicação será feita até o entroncamento de Mucuri. Ora, o Extremo Sul da Bahia é uma área importante do ponto de vista da agropecuária, da indústria, do turismo, e, portanto, tem uma grande importância econômica. Não poderia nunca ficar fora dessa primeira fase da duplicação da BR 101.
Isso está acontecendo também no Nordeste. No nordeste do Brasil está sendo duplicada desde Natal até a fronteira de Bahia com Sergipe. E ninguém sabe quando será duplicada da fronteira Sergipe com Bahia, entrando pela Bahia até o entroncamento da BR 324 de Feira de Santana. Ou seja, a BR 101 vai ter velocidade de duplicação ao norte da Bahia, ao sul da Bahia, e a Bahia vai ficar no meio, sem ter esse direito.
O Sollo – Nos últimos anos, a Bahia tem deixado de receber investimentos de grandes indústrias, para estados como Pernambuco e Ceará, além de uma grande queda na arrecadação do ICMS. O que o Sr. tem a dizer sobre essa questão?
PS – Isso revela mais uma vez o desprestigio do governo do estado, a falta de capacidade do governo do estado, falta até de credibilidade para que as empresas façam investimento na Bahia.
Eu estava olhando uns dados do BNDES, um banco que financia investimentos. A média entre 2003 e 2006 das aplicações do BNDES no Nordeste, a Bahia era responsável por 40% nos investimentos, portanto, tinha uma parte significativa. Em 2009, a Bahia caiu para 15%, nunca aconteceu isso na história recente da Bahia. Pernambuco que teve uma média de 20% subiu para 59 % em 2009. Ou seja, nos estamos perdendo muito espaço para Pernambuco. O problema é que isso acontece e o governo do estado não protesta, não reclama, aceita passivamente isso.
A pergunta é: De que adiante então o governador do estado dizer que é do mesmo partido, que é amigo do presidente da República, se na hora dos interesses da Bahia esses interesses não estão sendo defendidos pelo governador.
O Sollo – Como o Sr. avalia o cenário político do Brasil, com Dilma e Serra lado a lado nas pesquisas?
PS – Claro que de pesquisas agora nós estamos de alguma forma afastados ainda, mas acho que essa posição é muito boa pro Serra. O governo federal está aí usando toda força de sua publicidade, da máquina do governo para alavancar a candidatura da ministra Dilma e, ainda sim, o ex-governador de São Paulo está numa posição, já esteve até na frente, mas está numa posição de igual, o que eu acho que é uma posição muito boa. Quando a campanha começar, então vai parar a vantagem da candidatura do governo. Aí as coisas vão ficar mais equilibradas. Eu tenho certeza que a partir daí Serra dará um grande impulso.
O Sollo – E a movimentação política na Bahia?
PS – Nós temos algumas candidaturas. Três até agora são as candidaturas principais. Eu quero falar mais da nossa coligação. Nós temos uma coligação com o PSDB, vamos apoiar Serra para presidente da República e o PSDB vai nos apoiar aqui para o governo do estado. Essa é uma coligação forte e mesmo nesse período em que o governo do estado está utilizando aí vastamente a publicidade, ainda ontem jornais do sul mostraram as enormes aplicações do governo na publicidade institucional. Então, com tudo isso, com essa vantagem aparente, a nossa candidatura está ai de forma competitiva, está crescendo e está começando a receber cada vez um número maior de apoio e de adesões.
Eu confio muito que a partir daí nos iremos crescer continuamente e, principalmente, após o inicio do período eleitoral propriamente dito, quando o governo perde essas vantagens. A partir de junho o governo não pode mais fazer propaganda, não pode mais inaugurar essas obras incompletas que está fazendo. A situação fica mais equilibrada, e nós, que já estamos em uma situação boa, temos uma perspectiva ainda muito melhor.
O Sollo – Como governador, quais serão suas principais ações no governo?
PS – Eu não tenho nenhuma dúvida que devido à degradação dos serviços públicos que nos estamos hoje assistindo na Bahia, uma atenção especial para reestruturar completamente os setores de segurança pública, de saúde e de educação é um dever inicial de quem quer que venha a ganhar essa eleição.
Nós não podemos continuar convivendo com esse pânico na érea de segurança pública, nós não podemos continuar convivendo com essa desestruturação do serviço de saúde, nem com a má qualidade do serviço de educação. E, além do mais, temos que voltar a colocar a Bahia na posição de liderança que sempre teve, de ser a grande líder no nordeste na capitação de investimentos, que é o que pode proporcionar novas oportunidades de trabalho para todos os baianos.