Ocorrências aumentam no período das chuvas. Saiba como agir e se prevenir em caso de acidentes com serpentes, aranhas, lagartas e escorpiões
Uma análise de dados do Ministério da Saúde revela que, nos últimos seis anos, o número de acidentes com animais peçonhentos cresceu 32,7%, em todo o Brasil. Em 2003, foram 68.219 notificações, contra 90.558, em 2009. No ano passado, os escorpiões lideraram o ranking, com 45.721 acidentes, seguido pelas serpentes, com 22.763. Aranhas e lagartas foram responsáveis por 18.687 e 3.387 notificações, respectivamente. Dados preliminares indicam, ainda, que acidentes com esses animais foram responsáveis por 309 mortes no Brasil, em 2009.Os animais peçonhentos são aqueles que possuem veneno e são capazes de injetá-lo por meio de dentes ou ferrões. Dependendo da espécie do animal, os acidentes podem até levar a morte, caso a pessoa não seja socorrida e tratada adequadamente com soro específico.
Em geral, as serpentes são os animais peçonhentos mais conhecidos e temidos. No entanto, animais menores — como escorpiões, aranhas e lagartas — podem ser tão letais quanto as serpentes venenosas. Para se prevenir, Daniel Sifuentes, responsável pela Área Técnica de Animais Peçonhentos, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, explica que a melhor maneira de evitar um acidente é conhecer os animais e os hábitos deles, principalmente nas grandes cidades.
A partir disso, a adoção de algumas medidas simples pode impedir o contato ou os acidentes com animais peçonhentos. “A maioria das pessoas não conhecem os animais e, quando ocorre o contato, não dão o devido valor para o evento, por não acharem grave. Mas, se ocorrer algum acidente com este tipo de animal, é importante procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo”.
DIFERENÇAS REGIONAIS – As chuvas, em geral, também fazem aumentar o número de acidentes com animais peçonhentos. Uma das hipóteses é que, com os alagamentos, esses animais são obrigados a sair dos seus esconderijos naturais, principalmente no caso de serpentes e lagartas.
No entanto, como estação chuvosa varia entre as regiões, os meses de maior incidência de casos também são diferentes, dependendo da localidade, como explica Daniel Sifuentes. “Na região Nordeste, por exemplo, os acidentes por serpente estão concentrados nos meses de abril a julho, que este ano coincidiu com o período das enchentes”.
CAPACITAÇÃO – Em 2009, o Ministério da Saúde realizou cursos de capacitação técnica nos quatros estados com maior incidência de acidentes com escorpiões – Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Paraná. Também houve capacitações no Pará, estado que apresenta espécies diferentes do restante do país. Este ano, a área técnica distribuiu às Secretarias Estaduais de Saúde 100 mil cartazes com orientações sobre educação ambiental e prevenção de acidentes com escorpiões.
Conheça abaixo um pouco sobre os hábitos dos principais animais peçonhentos e o que pode ser feito para evitar acidentes nas grandes cidades.
ESCORPIÕES
Os escorpiões injetam veneno por meio de um ferrão localizado na ponta da cauda. Somente em 2009, esse animal foi responsável por 47.815 casos e 103 óbitos. Os escorpiões se escondem perto das casas, em terrenos baldios, velhas construções, entulhos, pilhas de madeira e lenha, tijolos, mato e lixo. Também são encontrados em saídas de esgoto, ralos e caixa de gordura da pia das casas. Como se alimentam principalmente de baratas, é importante combater o aparecimento do inseto, que são atrativos para os escorpiões.
Em geral, o animal ferroa as pessoas nas mãos ou nos pés. Embora a picada provoque dor intensa, na maioria dos casos em adultos, se recuperam com facilidade. Porém, crianças podem apresentar manifestações graves, como náuseas e vômitos, alteração da pressão sanguínea, agitação e falta de ar.
DICAS PARA EVITAR ACIDENTES – Verifique cuidadosamente calçados, roupas, toalhas e roupas de cama antes de usá-los; evite lençóis que toquem o chão. Limpe periodicamente ralos de banheiro, cozinha e caixas de gordura. Mantenha camas e berços afastados, no mínimo, 10 cm da parede. Feche frestas nas paredes, móveis e rodapés para que não sirvam de esconderijo para os escorpiões.
Para evitar a presença dos escorpiões em casa, não deixe acumular lixo, entulho ou resto de obra nos quintais e jardins. Coloque o lixo em sacos plásticos fechados para evitar baratas e outros insetos. Mude periodicamente de lugar materiais de construção sem uso e lembre-se de proteger as mãos com luvas. Evite queimar terrenos baldios, pois desalojam os escorpiões e outros animais. Inseticidas e outros produtos não são eficazes contra escorpiões e podem gerar mais risco de acidente. É importante preservar os predadores naturais, como corujas, macacos, sapos, galinhas e gansos.
SERPENTES
Foram os animais peçonhentos responsáveis pelo maior número de mortes no ano passado – 106, no total. A maior parte dos acidentes (80%) ocorre por picadas nos pés e pernas. “Se essas partes do corpo estão protegidas com botas e perneiras rígidas, durante a atividade rural ou jardinagem, a chance de acidente cai para 20%”, explica Daniel Sifuentes.
Para evitar acidentes, é importante não acumular entulhos, lixo orgânico e materiais de construção; e limpar terrenos baldios pelo menos na faixa de um a dois metros junto ao muro ou cercas perto de casa. O principal alimento das serpentes são os roedores, , que vivem próximo ao homem em busca de alimento fácil. “Ao eliminar a fonte de alimento das serpentes, os ratos principalmente, você afasta grande parte dos acidentes em casa”.
O soro antiofídico é o único tratamento eficaz em caso de envenenamento por serpentes. Quando indicado, deve ser dado ao paciente em unidades de saúde, sob supervisão médica. Além disso, é preciso conhecer os efeitos clínicos dos venenos para indicar o tipo correto e a quantidade de soro adequada a cada caso. “Não perca tempo passando álcool ou outra substância, pois não vão neutralizar o veneno. Se for rápido, lave o local da picada com água e sabão e procure imediatamente a unidade de saúde mais próxima”.
DIFERENTES SINTOMAS – As reações do organismo humano variam de acordo com o tipo de serpente que pica a pessoa. Por isso, no caso dos profissionais de saúde, é importante ficar atento aos diferentes sinais e sintomas. Nos acidentes por jararaca, por exemplo, o local da picada apresenta dor e inchaço, às vezes com manchas arroxeadas e sangramento pelos pontos da picada, além de sangramentos em gengivas, pele e urina.
Na picada por cascavél, o local não apresenta lesão evidente, apenas uma sensação de formigamento; mas o paciente tem dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento, visão turva ou dupla, dores musculares e urina escura.
Fonte: Agência Saúde