Formato adotado pela TV Globo evitou que José Serra e Dilma Rousseff abordassem temas polêmicos ou partissem para o ataque; o tucano fez críticas à rival e ao governo de forma indireta e a petista preferiu destacar realizações do presidente Lula
O último ato da campanha eleitoral não refletiu o acirramento do segundo turno – no debate na TV Globo, os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) evitaram se atacar e, por causa do formato do programa, não abordaram temas polêmicos.
Em desvantagem nas pesquisas, Serra só fez críticas a Dilma e ao governo de forma indireta. Quando questionado sobre o tema corrupção, por exemplo, ele não citou o escândalo que derrubou Erenice Guerra da Casa Civil – em debates anteriores, o tucano sempre ressaltou as ligações entre a ex-ministra e a candidata do PT.
Dilma, que no começo do segundo turno adotou um discurso mais incisivo para barrar a eventual ascensão do adversário, também mudou de tom. No programa de ontem, ela evitou mencionar o tucano e procurou destacar realizações do governo Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal cabo eleitoral.
No programa, os candidatos foram sabatinados por eleitores indecisos que compareceram aos estúdios da Globo. Eles responderam a perguntas sobre segurança, saúde, educação e outros temas relacionados ao cotidiano da população. Não houve questões sobre privatizações, pré-sal e legalização do aborto, assuntos que foram destaque na campanha da segunda rodada da eleição.
A respeito da corrupção, Serra destacou que ela chegou a “níveis insuportáveis”. Como forma de combater as irregularidades, o candidato destacou a necessidade de fortalecer as instituições fiscalizadoras, como o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público. “O exemplo tem de vir de cima. É preciso escolher bem as equipes e ser implacável com quem comete irregularidades, não passar a mão na cabeça”, afirmou.
Dilma, na réplica, destacou a atuação da Polícia Federal no combate a casos de corrupção. Também apontou a importância da Controladoria Geral da União, órgão ligado à Presidência, “que foi responsável pela investigação no caso dos sanguessugas” – quadrilha que desviava verbas do Ministério da Saúde.
Em diversos momentos, a petista e o tucano apresentaram discursos convergentes. Ambos, por exemplo, destacaram a necessidade de valorizar os salários dos professores de escolas públicas e de reforçar o Sistema Único de Saúde.
Em relação à segurança pública, Serra defendeu a priorização do combate ao contrabando de armas e drogas. Defendeu ainda a formação de um cadastro nacional de criminosos, para que as forças de segurança dos distintos Estados tenham condições de monitorar a ação de quem cometeu crimes fora de sua área de abrangência.
Dilma afirmou que esse cadastro já existe, e que há iniciativas do governo para ampliar o banco de dados com informações da Justiça e do sistema penitenciário.
Em outro momento, a candidata do PT defendeu de forma enfática a desoneração da folha de pagamentos no País como forma de aumentar a criação e a formalização de empregos no País.
Serra, sobre esse tema, adotou tom mais cauteloso. “Vamos tirar o quê? O Fundo de Garantia, o INSS? Isso tem de ser muito meditado, porque não se pode perder receita.”
O tucano criticou a política de saúde do atual governo, mas sem mencionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Nossa saúde andou para trás, o governo federal encolheu os recursos que empregava”, afirmou.
A candidata petista reconheceu a existência de falhas no setor. “Temos problemas sérios de qualidade, e se a gente não reconhecer, não melhora.” Ela prometeu criar unidades de pronto-atendimento que funcionem 24 horas por dia para desafogar os hospitais públicos.
Em relação às políticas sociais, Serra defendeu a interligação do Bolsa-Família com programas federais como o Saúde da Família. Também apontou a necessidade de investir em ensino profissionalizante e de criar outros estímulos para que as famílias progridam e não dependam da ajuda federal.
Nesse momento, Dilma fez uma crítica indireta ao adversário, ao afirmar que 300 mil famílias pobres em São Paulo não recebem o Bolsa-Família por falta de cadastramento – função que seria do Estado e dos municípios. “Em São Paulo, quem cuida dos pobres é o governo federal.”
Fonte: Estadão