Você pode enterrar seus pensamentos e sentimentos bem no fundo do seu ser e esquecer o que passou em 2020, mas, para milhares ou milhões, isso não irá acontecer já que, à altura dos olhos, muitas vidas esbarraram em jalecos brancos, assustados ao abrirem as pálpebras sendo um tempo de infinidades de percepções: teve um trilhão de momentos limites, inundando a memória .
A rotina do viver alterada pelo desemprego, separações de casais, e fechamento das escolas. Certos momentos da história marcam a vida. Não precisa ser a visão de uma obra-prima de artista genial ou um baile no castelo de Versalhes. Basta a lembrança do que não foi desfrutado e está sensação de insegurança.
A revolução virá em 2021 pela vacina. Eu não sabia que esse fundo do viver era tão fundo assim, sabendo que o tempo dentro de nós dura conforme as sensações vividas, e passamos por períodos sem muitas sensações boas. O mundo é a exaltação, a alegria, o prazer, o gozo, calor humano, mas vivemos uma relação transtornada com o tempo neste ano.
Entraremos em 2021 repletos de expectativa, almejando encontrar a liberdade de antes que talvez nunca mais teremos.
Debaixo do átrio da igreja do Bomfim, neste final de ano, ardem velas amarelas em recipientes de flandes; à direita, para os vivos; à esquerda, para os mortos.
Velas ao lado de velas! Estou ainda a direita, ainda que o lugar seja equivocado para muitos. Percorro, como um pêndulo, o caminho entre o viver e o risco de não viver. Posso contar-me entre a maioria desta terra, que sobreviveu. A vida no futuro, intocada. Plena. Nada no novo ano desmoronado, nada que me é caro ao coração não foi arrancado.
Os pequenos ruídos de 2021 estão aparecendo e que tragam esperanças e não desespero.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.