“E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.” (Lucas 19.8-9)
Os judeus do tempo de Cristo acreditavam que eram especiais para Deus porque faziam parte do povo que havia descendido dos patriarcas. Confundiam o significado da promessa feita a Abraão com um compromisso genealógico de Deus com Abraão. Eles gabavam-se de serem “filhos de Abraão”. Mas Jesus não reconheceu esse tipo de relação ao lidar com eles. Quanto à genealogia de que tanto se orgulhavam, Jesus disse que Deus poderia transformar pedras em “filhos de Abraão” (Lc 3.8). Por outro lado Jesus reconheceu aqueles que, como Abraão, creram no Deus de Abraão e agiram por sua fé, em obediência e submissão, como foi o caso de Zaqueu.
Ele era um publicano (cobrador de impostos), um tipo renegado pelos fariseus e demais religiosos. Mas Jesus o reconheceu como “filho de Abraão” por causa da fé que revelou com suas atitudes. Diante de Cristo, Zaqueu submeteu-se. O texto não é explícito, mas Zaqueu creu em Jesus como o Cristo e entendeu que isso significava uma atitude nova diante da vida, em suas relações sociais e perspectivas. Como Abraão, ele colocou de lado a si mesmo para seguir o Cristo que veio a ele. Com a vinda de Cristo, sua vida passou a ser dirigida por novos princípios. Ele não poderia manter as portas de sua vida fechada para seu semelhante. O egoísmo cedeu lugar ao altruísmo.
É neste sentido que Abraão é o pai da fé de tantos ao longo da história. A fé de Abraão que o fez protagonizar histórias tão marcantes é a fé que produz protagonistas do Reino de Deus em meio ao reino dos homens. Assim como não se tratava de genealogia, não se trata de ter uma religião, mas de manifestar uma vida nova. Vida nova sustentada pela graciosa presença de Cristo e seu governo sobre nós. Vida de quem está crescendo na arte de obedecer, de dizer a Cristo “sim” ainda que isto lhe custe dizer “não” a si mesmo. Esta é a fé daqueles que creem e são salvos. Que creem como Abraão. A fé dos verdadeiros filhos de Abraão.