Recebida com repúdio por manifestantes brasileiros contrários às criticas que faz ao governo de Fidel Castro, a blogueira cubana Yoani Sanchez disse, em entrevista exclusiva ao G1 na sexta-feira, 22, que se sentiu amordaçada durante os protestos. “São perguntas muito agressivas, uma campanhas de difamação, e não me deixam responder. Com minhas palavras eu poderia derrubar muitas dessas mentiras. Por isso querem me amordaçar. Mas por sorte, também tive acesso a muitos microfones e possibilidades de me explicar.”
Ela não esconde a frustração e assume que teve medo. “Temi agressões físicas, mas não os dos questionamentos. Gostaria de debater com essas pessoas que têm perguntas incômodas, mas elas não querem respostas.”
Na quinta-feira, 21, o tumulto após o encontro entre grupos anti e pró-blogueira resultou no encerramento prematuro de evento em livraria na Zona Sul de São Paulo. No início da última semana, assim que chegou ao Brasil, ela enfrentou protestos ao passar por Feira de Santana, na Bahia.
Para ela, o contato com os manifestantes não manchou a imagem que tinha da democracia brasileira. Embora questione a falta de fôlego do que considera um grupo de pessoas que “nunca esteve em Cuba” tampouco lê seu blog, endossa – e até inveja – o valor dado à liberdade de expressão.
“Foi uma maneira de comprovar como funciona na prática o Estado democrático. Eu ficaria muito feliz se em meu país pudéssemos sair pelas ruas e protestar contra o uma declaração de um funcionário do governo. Impedir que a informação flua é fanatismo. Essas pessoas falam com base em estereótipos e clichês. A elas recomendo que passem um tempo na Cuba real, não destinada aos turistas. Com mercado racionado, falta de liberdades, dualidade monetária, asfixia política, asfixia econômica, expressiva, e vamos ver quantos desses continuaram pensando dessa forma.”
A cubana defende uma transição política para Cuba, mas não crê que o país sofrerá alterações após a morte de Fidel Castro. E garante que não pretende, em nenhum momento, ocupar um cargo político em um sonhado regime democrático. “Não me vejo no futuro em cargo político, ou paralmento. Me vejo trabalhando na imprensa. Cuba precisa de um jornal que narre a vida real, revise o passado e projete o futuro.”
G1