O resquício de cafeína que ainda corria pelo meu organismo ajudava a manter meus olhos abertos ontem a noite, virei-me de lado e acendi o abajur da mesa de cabeceira e deslizo a tela do celular: Designer de interiores tinha 24 anos e estava grávida de 14 semanas quando foi atingida com um tiro de fuzil no tórax, na comunidade do Lins de Vasconcelos, no Rio de Janeiro.
Esse é o tipo de notícia padrão apresentado diariamente. A violência relatada deixa nós do público exaustos. Quanto mais seremos capazes de aguentar? Sei que tudo me interessa, mas nada me prende, pois a sensibilidade fica turva com tanta notícia que acaba com a harmonia, e com a paz, mas a semi escuridão e o silêncio que estou agora são como estar num útero quente e reconfortante, deixo o celular e pego o controle remoto e troco de canal, e mais noticia de violência, muitas sobre mortes acidentais feitas por policiais, mas penso que para um policial fazer uma guinada do caos em que vivem nas ruas para oferecer consolo a alguém, ou ser mais cuidadoso nas abordagens torna-se cada vez mais difícil, e eles perdem a compaixão totalmente pois o ditado popular diz “Os exemplos arrastam” e eles são tragados por este contato com a marginalidade. Depois que os registros públicos foram disponibilizados online, qualquer boletim de ocorrência pode ser feito a distância, e vejo como a violência está banalizada. Uma espécie de tristeza solene permeia a todos nós com a violência e a continuidade desta pandemia.