Vida, fé e regras

“Depois que o Senhor disse essas palavras a Jó, disse também ao Elifaz, de Temã: “Estou indignado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó.” (Jó 42.7)

Quando aprendemos o que dizem as Escrituras podemos nos sentir capacitados para muitas coisas. Podemos considerar que já somos capazes de dizer o que Deus aprova e o que desaprova, por exemplo. Se aplicamos isso à nossa vida, muito bom. Se a experiência pessoal com essa verdade se confirma na vida, revela-se vontade de Deus, excelente. Entendemos certo. Pois a Revelação de Deus não tem o propósito de nos automatizar, mas de nos capacitar a existir. Ele entregou leis para Moisés, mas Jesus veio nos revelar o Amor Divino. As regras, que vieram antes, ficaram para depois e são dependentes das circunstâncias. Andar com Deus não é saber usar um manual, é aprender a amar e a nutrir uma fé relacional.

Os amigos de Jó tinham certeza de muitas coisas sobre Deus e sobre a vida. Eles jogaram sobre Jó suas certezas, pretenderam ser os defensores da honra de Deus e acusam Jó de injustiça. Tão obcecados por sua teologia, perderam de vista a compaixão. Em algum ponto da estrada eles se desumanizam e passam a ocupar um lugar em que não cabiam de fato, como se não fossem exatamente como Jó e estivessem sujeitos as mesmas fatalidades de Jó. Neste momento eles sentaram-se no banco dos hipócritas, dos que usam máscara e acreditam que são o que não são e, iludidos, julgam-se melhores que outros. Quando isto acontece, ainda que se fale uma verdade, ela se torna uma mentira em nossos lábios. Eles disseram “Deus é justo” mas não temiam de fato a justiça de Deus, pois ignoravam a própria impiedade. Jó é que tinha problemas, não eles!

Jó viveu profundas dúvidas sobre Deus e sobre a vida. Ele ficou confuso, atordoado. Mas foi autentico e disse o que estava dentro de si, foi verdadeiro de uma jeito necessário a todos nós. Ele brigou com Deus com palavras, afinal estava em conflito com Deus na alma. Ele disse coisas equivocadas sobre Deus, mas Deus o compreendeu e acolheu. E, para espanto de seus amigos e de nós, leitores do livro, declarou que Jó havia falado o que era correto a Seu respeito! A fé cristã é desse tipo: intensamente interior, complexa e incompatível com a superficialidade pretenciosa. Há verdades claramente reveladas nas Escrituras, mas ser cristão não é conhece-las e tentar enquadrar a vida nelas. Ser cristão é crer no amor de Deus, relacionar-se com Ele e seguir pela vida descobrindo o significado para nós e nosso tempo das verdades que Ele falou, há tanto tempo.

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