Olho distraído as fachadas centenárias desfilarem sob a luz dos postes, os monumentos, as árvores, os transeuntes, os casais apaixonados. Não quero mais da vida do que senti-la perder-se nestas tardes imprevistas, ao som de crianças alheias que brincam nestes jardins engradados pela melancolia das ruas que as cercam, e copados, para além dos ramos altos das árvores, pelo céu velho onde as estrelas recomeçam.
Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas veem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida. Mas ter força, coragem e fé é um caminho necessário para vencer esta vida. Se a ciência e a tecnologia de hoje podem vencer guerras, como sugere a história do conflito militar, então ao invés de contar nossas bombas inteligentes, deveríamos contar nossos cientistas e engenheiros inteligentes. Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção- isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser.
Amanhã o que for será outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão. Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. O que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto. Só a fé em Deus é real e duradoura, quem não tem vive uma vida vazia.
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