Proibiram a todos nós de percorrer a cidade com o confinamento nos meses de abril e maio, e junho onde a cidade parecia triste como chão de mortos, mas deixaram a imensidão de todo o vasto saber dos séculos através dos livros, o mais antigo, a Bíblia, já li, aprendi a ler quando morei no interior e dividi um quarto com um evangélico, sendo o versículo que chamou a atenção; Eclesiastes 3 “explica que há momentos de alegria e de tristeza, de surpresa e de desilusão, de sucesso e de fracasso… As coisas mudam, passam, transformam-se. Nenhuma situação dura para sempre.”
Neste período de máxima civilização sentimos um certo pessimismo com este confinamento da idade média. Li Schopenhauer, que pelo meu senso crítico achei uma tolice o seu pessimismo, é como focar numa folha e não ver a árvore inteira da vida, como agora, que é apenas um momento transitório. Schopenhauer só viveu cinquenta anos, numa hospedaria de província escura, levantando apenas os óculos dos livros para conversar.
E mesmo o rei Davi, do livro de Eclesiastes, só descobriu que a vida era uma ilusão aos setenta e cinco anos, quando o poder lhe escapava das mãos trêmulas. Acredito que boa ou ruim a vida precisa ser vivida. Deixo na mesa o livro que estou lendo, “Servidão Humana”, de W. Somerset Maugham, página marcada com um filete de papel no trecho: “Não adianta lamentar o vaso quebrado se todas as forças do universo, se reuniram para faze-lo cair de nossa mão”. Os sonhos se tornaram inquietantes, mas não adianta lutar contra a realidade.
No dia 22.04.2020 com o decreto municipal, começou o uso de máscara em Salvador para conter a pandemia, entramos num período de polêmica em tudo: A OMS ditando regras científicas e os políticos criando as suas, o povo perdido no meio, mas li um livro da História Medieval para ter consolo neste momento.
No ano 1000, além da violência, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa. Papas e imperadores, uns e outros invocando direitos divinos, competiam pelo poder. Mas o principal motor da atividade econômica era a guerra. Perigos reais, como os animais selvagens, e terrores imaginários como monstros e demônios espreitavam os aldeões. Vista pelos olhos de hoje, a vida cotidiana tinha tons de pesadelo. As habitações eram muito pequenas, de madeira, com coberturas de palha que chegavam rente ao chão. Janelas, quando havia, eram simples buracos. Móveis eram escassos. Morria-se geralmente por volta dos 30 anos.
A vida de todos os dias, para a mente medieval, estava tão impregnada de eventos extraordinários que não havia como separar realidade e fantasia. O europeu de mil anos atrás acreditava piamente em milagres e apocalipses. A atitude das pessoas diante da morte era ambígua. Naquela sociedade tão brutal a morte violenta fazia parte do cotidiano. A igreja concentrava toda a cultura erudita. Estamos fazendo história, mas a tradição de todas as gerações mortas mostra que vivemos num mundo maravilhoso, apesar da pandemia.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.