Verdade radical demais

“Mas Jesus permaneceu em silêncio e nada respondeu. Outra vez o sumo sacerdote lhe perguntou: ‘Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?’ ‘Sou’, disse Jesus. ‘E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu’.” (Marcos 14.61-62)

Este não é um texto politicamente correto. Ele põe a fé cristã em uma perspectiva que questiona os sistemas religiosos (inclusive das religiões evangélicas) e nos coloca diante de um grande dilema: a singularidade de Jesus. O líder supremo do judaísmo faz uma pergunta que para ele e as pessoas reunidas no interrogatório de Jesus era muito clara: “você é o Messias prometido nos Escritos Sagrados, o enviado de Deus e Filho de Deus?” Jesus a responde sem deixar espaço para dúvidas: “Sou”. E vai além: “chegará o momento em que a história humana se encerrará com minha manifestação universal, visível a todos, em que incredulidade e a dúvida sobre mim não mais permanecerão”.

Um cristão é alguém que crê no que Jesus declarou, tanto sobre Si mesmo quanto sobre a história. A fé cristã tem essa dimensão radical! Aos olhos dos líderes religiosos judeus Jesus não correspondia ao que esperavam para um messias, porque estavam orientados por sua religiosidade e não pelas profecias. Do mesmo modo a radicalidade e centralidade de Jesus não caem bem para a mente moderna, antipática a uma resposta única e que exige convergência de todos. A mente moderna quer organizar a vida sob o fundamento do ego, em que opções são sagradas e a verdade é casual. Nela um Deus que estabelece parâmetros não é bem vindo, pois não há lugar para absolutos numa mentalidade relativizada.

Mesmo fora da moda, o cristianismo “absolutiza” Jesus e desafia-nos a crer nele, como sendo quem Ele mesmo afirmou ser. Fora dessa radicalidade, Jesus nos será um sábio, um iluminado, um grande líder, mas não o nosso Senhor, Salvador e Mestre. Dialogaremos com Sua memória, mas não seremos discípulos. Poderemos melhorar nossos hábitos, mas não conheceremos o poder de Sua presença e nem o perdão para nossos pecados. Viveremos para nós mesmos, sem experimentar o mistério da vida plena e livre que se estabelece para quem, pela fé, não vive para si mesmo, mas para Cristo. Tudo muito estranho, mas é assim a fé cristã. Uma dimensão de vida que só faz sentido pelo lado de dentro, da posição de quem crê. E então? Radical demais?

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