No final da década de setenta gostava de acampar, lembro que fiquei na ilha, armar e desarmar a barraca era trabalho e prazer. Amoreira era mal iluminada. Não havia porta fechada e toda janela tinha sua quente luz. Em torno dos lampiões as larvas voavam. A margem do mar, as mesas, as poucas conversas. A desperta leveza da noite não nos deixava ir dormir; como andarilhos, devagar andávamos pela praia. Fazíamos parte do amarelado dos lampiões, e das larvas aladas e da barraca, perto do mar e de toda a abóbada celeste. Fazíamos parte destes momentos mágicos de acampamento na juventude. Aquelas noites acampando era do mais fino viver, para sempre inquebrável.
Pela manhã, acordava com a maresia, o sol o dia todo, que liberdade! Eu queria que a noite começasse enfim a se aprofundar, pelo bom cansaço do dia, para que também eu pudesse dormir. Onde poderia eu me refugiar e descansar do vibrante dia de verão, senão no sono livre da barraca? Que solão foi o dia. Era uma gema de ovo no meio do céu. Meu sono era de paz. Todo dia me deitava à meia-noite, fechava os olhos, pensava um monte de pensamentos mágicos. A lua brilhava como uma lâmpada amarela no céu. O mar rodeava-nos com seus ruídos, que eram como uma música de fundo: gritos de pássaros, coaxar de sapos e martelar de grilos. Fora um momento bobo e passageiro, mas significou viver.