Uma sutil corrupção

“A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola…” (Lucas 18.9)

Assim o Evangelho de Lucas introduz a história contada por Jesus, que ficou conhecida como a parábola do fariseu e do publicano. Neste verso é indicada a motivação e os destinatários da parábola. As pessoas cheias de justiça própria incomodavam Jesus. Sendo Ele o Cordeiro de Deus que veio para tirar o pecado do mundo (Jo 1.29), as pessoas dominadas por auto aprovação colocavam-se distantes de Sua graça. Ao mesmo tempo em que nutriam um olhar de desprezo e juízo contra outros. Quando a auto justificação nos domina, temos problemas com Deus e com as pessoas. Jesus então decidiu confrontá-las e propôs a parábola. Ele não o fez como uma crítica apenas, como uma expressão de reprovação a atitude delas somente. Mas também como uma forma de desperta-las, de leva-las a mudança de atitude. Foi também com este propósito que Ele disse aos homens, que lhe apresentaram a mulher apanhada em adultério: “quem não tiver pecado, atire a primeira pedra! Em outras palavras, “Vocês que podem ver tão claramente o pecado dela, será que não tem olhos para verem os próprios pecados? São capazes de condena-la sem antes julgaram a si mesmos?”

Jesus estava sempre rodeado de pessoas e entre elas muitos fiéis observadores das obrigações religiosas. É notável o quanto Jesus se pronuncia a elas. A princípio pode parecer exclusivamente que Ele é contra e não tolera essas pessoas. Mas porque Ele se ocuparia tanto delas? A verdade é que Jesus as tinha como alvo de Seu amor. Jesus amou a todos, embora tenha sido duro em diversos momentos com os religiosos, em particular com alguns fariseus e mestres da lei. E o foi para revelar a sutil corrupção de seus corações. Ela é mais difícil de ser tratada. É triste o que a justiça própria pode fazer com o coração humano. Por isso Jesus reagia fortemente todas as vezes que a via em seus ouvintes e interlocutores a justiça própria a dominá-los. Ser um pecador é algo tão sério, que pode comprometer até mesmo a virtude, tornando-a lenha para a fogueira do nosso orgulho e presunção. Isso endurece ainda mais o nosso coração. O que Jesus via no coração das pessoas a quem contou a parábola corrompia a bondade que pensavam ter e contradizia a santidade que os envaidecia. Esse é um risco que todos corremos.

Viver corretamente e fazer as coisas certas é uma virtude e devemos nos esforçar nesta direção. Honramos a Deus quando dizemos não ao pecado e nos dedicamos ao que é bom. Jesus disse que nossa luz deve brilhar, e vendo nossas boas obras, que os homens glorifiquem a Deus! (Mt 5.16). Mas devemos nos manter no caminho do amor a Deus e às pessoas. Do contrário, a justiça própria operará em nós a sutil corrupção de tornar virtude em vício. Sentiremos impulsos para nos diferenciar, julgar, desprezar, rejeitar e mesmo condenar. Perderemos de vista a graça, o amor e a misericórdia. E isto nos afastará do coração de Deus. Não há razão que justifique qualquer sentimento de superioridade, de qualquer pessoa, em face a outra, e especialmente na presença de Deus. Não há razão que justifique qualquer sentimento de superioridade, na presença de Deus somos todos carentes da graça. E agir como se assim não fosse é perverter a justiça. Por isso Jesus foi sempre tão severo como os que se justificavam e desprezavam outros. A parábola que Jesus conta a seguir é uma lição para todos nós. E talvez, especialmente, para os melhores de nós! Que estejamos atentos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui