Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” (Provérbios 4.23)
Não conseguimos ver coisa alguma, pessoa alguma, sem nos ver na imagem. Estamos sempre nos projetando em tudo. Até em Deus! E quanto mais ignoramos isso, mais fazemos isso. A consciência dessa realidade é uma proteção. Para nós mesmos e para as pessoas. O extremo dessa projeção irrefreada é a intolerância a tudo e a todos que destoam de mim mesmo. Precisamos prestar atenção em nosso coração, pois é de lá que nosso eu, teimoso em dominar a cena, projeta-se na vida. A vida que vemos, vem de lá, desse lugar incrivelmente espaçoso com suas muitas realidades. De certa forma, não vemos; nos vemos! Em nosso coração há coisas boas e úteis, mas também muitas outras perniciosas. Precisamos prestar mais atenção em nós mesmos e, na linguagem do provérbio, cuidar do nosso coração, pois ele define nossa relação com a vida.
Nesse tempo de quarentena, permita-me dizer: vê se se enxerga! Que você tenha mais contato consigo mesmo e se perceba mais. Que isso melhore suas orações tornando-as mais verdadeiras. Que isso promova mais consciência sobre o tipo de pessoa que tem sido e onde pode melhorar. Tenha mais contato com Deus e se quebrante. Na perspectiva em que estamos conversando aqui, elucidar a vida exige elucidar a si mesmo. Ter olhos para reconhecer os caminhos tortos pelos quais a vida pode seguir exige, antecipadamente, a percepção do que está torto em nós mesmos. Ser sincero é importante, mas não é raro a atitude de se estar sinceramente errado. Por isso precisamos andar com Deus, com coração quebrantado, com atitude humilde, para podermos ouvir Sua voz. Precisamos de esclarecimento e não apenas de sinceridade. Quando Deus confronta nosso eu dominante, costumamos estranhar a Sua voz, pois não é nossa própria voz. Rejeitarmos a Sua verdade apegados à nossa!
Como podemos cuidar do nosso coração? Ter mais consciência de nós mesmos e humildade para não vivermos enganados pelo nosso própria reflexo ao olhar a vida e ao ouvir Deus? Precisamos aceitar o amor de Deus por nós e por todos os outros. Sim, aceitarmos nessa proporção. Isso nos força a escolher ouvir, compreender e considerar. Isso possibilita ver a vida com mais amplitude. Precisamos aceitar Sua graça como ela é. A aceitação da graça, como ela é, incontrolável e constrangedora, atinge o âmago, o alvo de nossa suficiência e orgulho. Isso é cura para nossos olhos. Precisamos nos lembrar que somos pecadores. Não temos tudo, não sabemos tudo, não podemos tudo, não estamos totalmente certos. Precisamos ver melhor, sempre! Há uma obra que Deus quer fazer em nós: dar-nos um coração novo. Mas é necessário nossa busca e consentimento. O velho coração precisa ser quebrantado. Dá trabalho, mas vale a pena. Nenhuma benção supera a benção de se ter um novo coração!