UMA POLITIZAÇÃO QUE MATA O POBRE

UMA POLITIZAÇÃO QUE MATA O POBRE
Pastor presidente da IBM, Julio Cesar. Foto: Arquivo

Quem me conhece sabe do meu apartidarismo, da minha ausência de preferência por bandeiras ideológicas. Não sou nem de esquerda nem de direita. Creio piamente que existe vida fora desses extremos.
Mas, quem não me conhece vai se prender a uma ou outra palavra de minha autoria sobre política e imputar-me esta ou aquela afeição partidária. Problema seu. Pense o que quiser. Não tenho que lhe provar nada.
Feita esta introdução, preciso abrir a minha alma. Diante dos fatos presenciados nesses últimos dias, em que me vi no centro de uma grande celeuma política, aguardei pacientemente o desenrolar dos fatos para exibir uma posição que não fosse precipitada, mas fruto de análise comprovada.
Na última semana fui contactado por uma médica de nossa comunidade de fé, pessoa da mais alta dignidade e competência, que me solicitou em nome de um grupo respeitável de médicos a cessão do espaço físico da igreja, a fim de fazer uma distribuição de kits de medicamentos para o tratamento da Covid-19 em seu estágio inicial. Tudo seria feito debaixo da administração de especialistas na área da saúde e sem nenhuma intenção partidária. Este último ponto foi muito frisado por mim a fim de que eu aceitasse a parceria.
Ora, sou pastor de uma comunidade esclarecida e não sou tolo ou neófito. Estou ciente de que alguns medicamentos não têm a sua eficácia comprovada pela Organização Mundial de Saúde, entretanto, nessa guerra nebulosa que se trava contra esse invisível inimigo mortal conhecido como Coronavirus, toda e qualquer possibilidade de ajuda é muito bem-vinda. Principalmente para o pobre, que não dispõe dos mesmos recursos das classes mais abastadas.
Assim, considerando que já temos uma farmácia solidária operando dentro de nossa igreja, com a aprovação do governo estadual da Bahia, bem como o protocolo médico a ser adotado seria o mesmo usado por várias clínicas e hospitais particulares, além de inúmeros municípios no Brasil, não tive dúvidas: se é para abençoar a quem precisa estamos disponíveis, como sempre estivemos em nossa caminhada ministerial.
Porém, desde que foi anunciada a ação solidária da igreja em parceria com esse grupo amigo, os ataques tiveram início. Fui taxado como pastor mercantilista da fé e oportunista político por parte de grupos que desconhecem minha trajetória de liderança. Até aí tudo bem. Meu casco é relativamente grosso. Ninguém chega a 25 anos de ministério pastoral público de graça. Sempre existe um preço a ser pago. Entretanto, o que vi na última segunda-feira foi um desafio à minha paciência. Uma fiscal orientada pelo governo do estado da Bahia, de forma claramente deliberada, tentou insistentemente confiscar os medicamentos doados, impedindo assim uma ação esperançosa em prol do pobre, pobre esse que tem morrido nas instalações públicas de saúde locadas na cidade. O estranho é que todos os pacientes da rede particular do município tenham sobrevivido à doença. Por que será? A causa não é difícil de se encontrar: tratamento positivamente diferenciado para os mais favorecidos economicamente e as sobras para os marginalizados pela sociedade.
Meu estarrecimento se deu em virtude de o mesmo protocolo médico ter sido adotado pelo Secretário Estadual de Saúde da Bahia, sendo a ação da referida fiscal uma grave contradição àquilo que já foi adotado anteriormente pelo seu chefe. Como pode isso? Mais uma vez, a resposta é fácil de se achar: uma enfermidade que tem matado dezenas de milhares de brasileiros tornou-se motivo de politização em tempos de acirrada polarização partidária. E as consequências dessa nefasta disputa recaem desgraçadamente sobre o lado mais fraco: os pobres e oprimidos de nossa cidade. Deus tenha misericórdia de nossas autoridades, pois Deus cobrará o sangue dos que sofrem a ação ímpia dos líderes governamentais.

Por Pastor Julio Cesar Paiva Gonçalves

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