“Eles não são do mundo, como eu também não sou.” (João 17.16)
Em João 17 podemos ler a oração de Jesus por seus discípulos. O texto joanino está tratando de uma espécie de preparativo de Jesus para sua partida: últimas lições, ênfases, ensinos. Uma da partes trata da oração. Nela o Mestre também menciona os que creriam no testemunho dos discípulos. O nos toca, dois mil anos depois. Jesus torna a oração feita por eles, a oração feita por nós. É bom lermos com alguma frequência essa oração e refletir nela.
“Eles não são do mundo, como eu também não sou.” Jesus está falando de quem somos por causa dele. Deixamos de ser deste mundo como éramos e passamos a não ser da mesma forma que Jesus não era. Em que sentido devemos tomar essas palavras? Certamente que não num sentido em que nos desinteressemos pela vida ou que nos distanciemos das pessoas que, aos nossos olhos são deste mundo! Pois Jesus não viveu assim.
Há muito que temos para aprender com essa declaração de Jesus e todas as demais dessa oração. Ela indica que há um novo lugar de vida para quem é feito e se faz discípulo de Jesus. Passamos a existir num processo permanente de ressignificado do sentido e propósitos da vida para nós. Os bens, o conhecimento, o poder, as oportunidades… tudo por aqui pode ser vivido de um modo antagônico ao Reino de Deus ou harmônico com ele. Não ser deste mundo nos leva a considerar novas formas de lidar com este mundo e tudo que faz parte dele. Afinal, fomos transportados do reino das trevas para o Reino de Cristo (Cl 1.13).
Fomos incluídos no Reino de Deus e no exercício de nossa submissão a Cristo, o Reino de Deus vai tomando lugar em nós. E aí vamos deixando de ser deste mundo. Mas isso não nos desumaniza. Isso nos leva a descobrir a verdadeira humanidade. Nas palavras de John Stott, a verdadeira mundanidade. Passamos à possibilidade de vivenciar esse mundo de forma que, em lugar de sermos objetos dele, fazemos dele objeto de nossa fé e lugar de nossa adoração. Este é um dos sentidos da expressão de Jesus na oração. O mundo já não é para nós o que foi e estamos aprendendo a viver nele de uma forma nova.
Você e eu não somos deste mundo. Há tanto a aprendermos sobre isso! Gostaria agora mesmo de me sentar numa roda de cristãos para orarmos juntos pedindo o esclarecimento do Espírito e exercitarmos uma compreensão coletiva dessas palavras, as vezes usadas de forma tão simplista. De um jeito que mais nos afasta do que nos aproxima do exemplo de Jesus. Não ser deste mundo é ser de uma forma que nossa presença sirva para a mudança do mundo. Cada pessoa é um mundo! Que sua vida contribua com o mundo de seu próximo revelando-lhe o amor de um novo mundo, de um novo ser, recriado por Jesus.