Uma liberdade desconcertante

“Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo. Jesus perguntou aos Doze: Vocês também não querem ir?” (João 6.66-67)

Há muitos filmes de que me lembro e que tenho disposição para assistir mais uma vez, mesmo sabendo o final. Entre eles está “Um Sonho de Liberdade”. A trama acontece num presídio americano. Muitos personagens neste filme são realmente marcantes. Nele ficam claros os efeitos da privação de liberdade, do condicionamento, que tem o poder de roubar a espontaneidade e estreitar a visão. Esse estreitamento da visão não afeta apenas o modo como olhamos e interpretamos a vida mas, sobretudo e principalmente, o modo como olhamos para nós mesmos e, consequentemente, o modo como olhamos e compreendemos as demais pessoas.

Paulo disse que, em Cristo, somos feitos novas pessoas (2 Co 5.17). E o modo como Jesus nos faz novos é por meio do nossa fé nEle e pelo processo de segui-lo diariamente. As marcas dessa experiência com Cristo são: amor, graça e liberdade. Há outras, mas quero destacar essas três e dar ênfase à liberdade. “Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres”, disse Jesus (Jo 8.36). Esse é um caminho improvável para muitos de nós quando pensamos em levar alguém a mudanças. Em lugar de liberdade, tomamos o caminho contrário: restringimos a liberdade. E o fazemos porque reconhecemos a incapacidade do outro. E precisamos então protege-lo de si mesmo. Faz sentido? Sim, faz todo sentido para nós. Mas ignoramos que é assim porque também somos incapazes. Não podemos mudar ninguém. O que podemos é doutrinar, condicionar.

Replicamos isso para nossa religiosidade e atribuímos o mesmo comportamento a Deus. Mas no Reino de Deus é diferente. Somos livres. Inclusive para desistir. Sem ameaças! “Não querem também ir embora?”, perguntou Jesus aos discípulos. Mas eles já não queriam. Não havia para onde ir! Eles tinham encontrado vida em Jesus. Não eram capazes de andar com Jesus, e mostraram isso! Mas queriam ficar e eram bem vindos, embora frágeis. Não havia para onde ir. Não porque não pudessem, mas porque não queriam. O Reino de Deus é o lugar de pessoas livres, que ficam porque querem. Não poderemos desfrutá-lo se o que nos move é o medo ou a ganância. Só o encontramos no amor. No abraço imerecido dado pelo Pai ao filho que estava morto, para que revivesse. E desse abraço não queremos mais sair. Ninguém pode nos tirar de lá, só nós mesmos. Mas, quem disse que queremos? É a liberdade desconcertante que Deus nos dá o que, de fato, nos concerta!

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