Uma história às avessas

“Ele orou ao Senhor: Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende.” (Jonas 4.2)

O texto de Jonas normalmente é lembrado por causa do grande peixe. Discute-se a literalidade ou não da narrativa e perde-se a grande riqueza revelada sobre o coração humano e o divino. A leitura do livro nos coloca diante de um profeta com atitudes suspeitas, de marinheiros não conhecem a Deus mas agem piedosamente e de um Deus que irrita o profeta por sua grande misericórdia e inclinação para perdoar e redimir. Interessante não? A pura lógica humana não produziria uma história como a que este livro nos conta! Há o dedo de Deus no enredo. O drama das relações, das reações e atitudes, deveria nos chamar mais a atenção que o episódio com o grande peixe.

Lendo Jonas vemos o contraste das atitudes do profeta, com quem Deus fala e a quem dá uma missão. Mas ele revela um coração duro, sem misericórdia e egoísta. Ele é profeta, tem uma mensagem e tem um lugar para anunciá-la, mas foge da missão. Ele tem seus próprios planos e um enredo próprio para a história dos ninivitas. O profeta não quer o bem daqueles pecadores. Ele os quer destruídos. Ele não lida bem com a possibilidade de que Deus acabe perdoando aquela gente. As vezes levamos o nome de povo de Deus, mas não amamos as pessoas que Deus ama.

Na história também temos os marinheiros. Homens supersticiosos e sem conhecimento de Deus, mas que se esforçam por salvar o profeta fujão e causa de correrem grande risco. Agindo assim revelam um grande temor ao Deus que desconheciam. Revelam também o coração que deveria habitar o profeta. É interessante como pessoas nada religiosas e que vivem muito pouco preocupadas com a Bíblia ou com orações, as vezes revelam-se cheias da misericórdia, da bondade e do amor que se esperaria encontrar na vida dos que tanto sabem sobre as Escrituras e oram diariamente.

É interessante ler sobre a insana revolta do profeta, que ficou furioso porque Deus confirmou suas suspeitas de que era um Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que abandona o castigo e oferece reconciliação. O coração de Deus era muito mole para o gosto do profeta. Ele era um profeta mas não concordava muito com os critérios divinos. Para ele faltava um pouco de justiça punitiva e ira destruidora direcionada às pessoas certas. Não costumamos declarar nossa revolta contra Deus, mas não é incomum um certo prazer em anunciar (e esperar) a ira divina. Lembramos mais da mão pesada de Deus do que de sua atitude graciosa. Lembramos mais do Senhor do Exércitos do que do Abba do Pai Nosso!

A verdade é que somos muito diferente de Deus e é importante percebermos isso. Nem sempre nosso zelo religioso traz consigo o equivalente em amor, bondade, misericórdia e graça que tanto caracterizam o Deus do Evangelho. Lamentavelmente, quanto mais nos percebemos isentos de pecados, tanto mais nos revelamos intolerantes com pecadores. Mas o Santo Deus os ama e insiste em sua redenção. A história do profeta Jonas nos coloca diante dessa realidade. Podemos mudar o script! Podemos concordar mais com Deus, celebrar mais sua misericórdia e graça, e nos revelar mais parecidos com Ele, cujo amor foi tanto que não poupou seu próprio Filho, antes o entregou por todos nós!

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