“Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: Quem é o maior no Reino dos céus?” (Mateus 18.1)
Não temos ideia do quanto somos apegados a coisas e o quanto nos importamos com elas, até que soframos perdas. Racionalmente podemos até dizer que coisas não importam tanto para nós, mas dizer isso mantendo a posse e conservação delas é fácil. Certa vez ouvi o Dr. Russel Shedd dizer que a maior prova de que possuímos alguma coisa é o fato de doarmos essa coisa. Se não conseguimos doar, se não conseguimos partilhar, talvez ela seja que nos possua muito mais do que nós a ela. “Quem é o maior no Reino dos céus?” é uma pergunta de ordem materialista. Expressa uma escala de valores e buscas que não tem primazia no Reino de Deus. Os discípulos andaram com Jesus por cerca de três anos e meio, mas somente após sua morte e ressurreição, com a vinda do Espírito Santo, é que começaram a entender realmente com o que estavam envolvidos. Havia muitas mudanças a serem experimentadas.
“Quem é o maior no Reino dos céus?” é uma pergunta motivada por ambição e poder. É uma pergunta de adultos, jamais de crianças. É pergunta de quem desaprendeu a partilhar, a celebrar a presença e a vida do outro. Que deixou de ver o outro com a alegria de quem encontrou um companheiro de jornada, alguém com quem brincar a vida e partilhar a alegria. É a pergunta de quem passou a ver o outro como concorrente, como alguém a quem precisa superar e vencer. De alguém mais propenso a se esconder e se proteger. Que já não sorri com tanta facilidade e sempre guarda tão secretamente a si mesmo que, se precisar dizer quem é talvez enfrente grande dificuldade. De quem treinou-se nas atitudes simuladas, de quem perdeu a espontaneidade. Tudo bem próprio do reino dos homens, do mundo das pessoas crescidas, que perderam a inocência e a simplicidade. Um mundo distante da criança. Mas é a ela que Jesus apresenta como resposta. Uma resposta, em princípio, nada esclarecedora.
“Quem é o maior no Reino dos céus?” Os discípulos fizeram essa pergunta olhando para si mesmos e comparando-se uns com os outros. O Evangelho nos convida a olhar para Cristo e a nos colocar ao lado uns dos outros. Não era uma pergunta apropriada, por causa do que a motivava, mas era necessária. Afinal, era essa a verdade que os habitava. Eles nada entendiam do Reino de Deus. Suas mentes ainda funcionavam sob as perspectivas do reino dos homens. Todos somos assim. Somos necessitados de transformação. Precisamos, como gente alcançada pelo Reino, rever nossos conceitos e desconfiar de nossa lógica. Ganhar é perder e perder é ganhar. Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros. Como entender isso? É um Reino estranho! Não podemos entendê-lo para entrar. É preciso entrar para entender. Nele seremos contrariados por Deus, faremos as perguntas erradas e nem sempre entenderemos as respostas. Mas temos o Espírito Santo. Estamos seguros apesar de muito equivocados!
ucs