Turma da Madruga

Turma da Madruga

Nos anos noventa, Pedro que foi goleiro do Itabuna, Rafael dono de uma ilha que visitei algumas vezes, Josué, que quando conheci tinha um câncer terminal, mas continuou contando suas piadas e lembro quando contou que ia a Paris, disse: “Talvez minha última viagem”, e realmente foi. Matheus conhecido como presidente, pois se algum dos membros faltava pedia explicação, era fanático torcedor do Bahia, comparecia com a camisa tricolor.

Jacaré era o pecuária, vivia viajando de Salvador a Mundo Novo. O Italiano, com seu sotaque enbolado falava sempre de sua filha que morava em Nápoles. Zé Miranda o mais brincalhão e era dono dos três postos que existiam na Paralela, Campinho era aposentado do Banco Central vivia queixando da doença de sua mulher, eu era o mais novo e só fazia ouvir e aprender, e recebia sempre sermão do Presidente, pois faltava uma a duas vezes por semana, a reunião as cinco da manhã no parque da cidade e a caminhada na natureza, área interna do parque nos dois primeiros anos, mas como começaram a existir ocorrências de assalto, mudamos para a área externa. Esta turma é antigo tendo iniciado nos anos 70. Entrei já quando muitos já tinham morrido. A caminhada era de uma hora, com conversas do resultado do último jogo do Bahia e Vitória, piadas, situações da política, uma terapia em grupo enquanto o corpo exercitava também. Nesta turma aprendi cedo a senti o gosto do vazio, pois lá vi o sofrimento de Pedro, por três meses após o diagnóstico tardio de um câncer. Matheus (Presidente), foi um ataque cardiaco fulminante. Josué ,o primeiro a desaparecer, mas fez sua viagem a Paris e Rafael que lutou muito, lembro que foi no meu aniversário de cinquenta anos com a cabeça raspada, via o sol subindo entre os arranha-céus, e um fluxo interminável de gente passando pelas ruas a caminho do trabalho como em uma procissão secreta matinal, ouvia o grito de um pássaro solitário quebrando o silêncio com sua necessidade de se expressar, quando todos ião embora, e eu tinha tempo, havia um banco que eu sentava e observa um pouco a natureza.

As vezes sentia as gotas finas de chuva e pensando naquelas histórias secretas da turma da madrugada que tanto me ensinou sobre o viver e o morrer, como se o mundo estivesse calado esperando eu levantar e ir embora. Estar grato por ter conhecido aqueles amigos com vidas diferentes, mas com coragem para enfrentar os desafios do viver, no fim restou eu, Campinho, o italiano e Zé Augusto, e com a viajem do Italiano a turma se desfez, mudei os nomes para preservar a privacidade.

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