“Esteja sobre nós a bondade do nosso Deus Soberano. Consolida, para nós, a obra de nossas mãos; consolida a obra de nossas mãos!” (Salmos 90.17)
A fé cristã é a fé que nos desafia a viver o tempo todo em duas dimensões: a do natural e a do sobrenatural; a do temporal e a do eterno; a humana e a divina. Esta é uma das razões de ser tão estimulante viver pela fé no Evangelho de Cristo. Há sempre uma expectava, uma nova possibilidade, uma perspectiva diferente. Não há como domar Deus. Ele não é previsível como gostaríamos que fosse. Os pensamentos dele não são os nossos. As vezes são diametralmente opostos aos nossos (Is 55.8-9). Por isso nos surpreendemos com Deus. A fé cristã é a fé do já e do ainda não. Ao mesmo tempo que já somos filhos de Deus em Cristo, ainda não somos tudo que um dia seremos (1 Jo 3.2). Ainda tropeçaremos, ainda alternaremos entre atitudes louváveis e lamentáveis. Por isso devemos ser cuidadosos. Mas, a vida está diante de nós, para vivermos pela fé, e andarmos com Deus. E, inclusive, podemos trabalhar com Ele ao nosso lado.
O texto de hoje nos aponta essa magnífica possibilidade: poder contar com a bondade e a participação de Deus naquilo que realizamos. Como podemos experimentar isso? Por um lado, trata-se de um pedido. Devemos orar e pedir isso a Deus. Mas por outro, depende de nossas atitudes: devemos nos envolver com o que Deus se envolveria e faze-lo da maneira que Deus pede que façamos. Isso envolve “o que faremos” e o “como faremos”. Lembra-se da lamentável cena, que virou notícia em todo país, de um grupo de políticos evangélicos orando para agradecer a propina que receberam, o dinheiro sujo de sua corrupção? Isso aconteceu em 2009. Não é preciso saber muita teologia para entender que Deus não tinha nada a ver com aquilo e jamais seria louvado com aquela gratidão. A oração não santifica tudo, não torna o mal em bem. Andar com Deus significa outra coisa.
Se queremos contar com a bondade de Deus e Sua participação, o que fazemos deve ser feito com amor a Deus e às pessoas. Deve ser feito de maneira a honrar a santidade de Deus. Deve ser feito com fidelidade, de maneira ética e comprometida com a vida. Deve ser feito com todas as nossas forças, com excelência. Não deve ser fruto de ambição egoísta. Não deve comprometer os valores de nossa vida, os relacionamentos, nossa família ou acomodar-se a injustiças. Não devemos ser movidos por ganância, mas por generosidade. O que fizermos devemos fazer com humildade e submetendo tudo a Deus. Se andarmos com Deus diariamente (Sl 90.1), se formos responsáveis e aprendermos a contar nossos dias e crescermos em sabedoria (Sl 90.12), é de se esperar que experimentemos a benção de trabalhar com Deus, contar com sua bondade e ver Ele mesmo consolidando a obra de nossas mãos.