Texto

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Sinto em mim que há tantas coisas sobre o que escrever. O impulso puro, mesmo sem tema. Como se eu tivesse a tela, os pincéis e as cores e me faltasse a mudez essencial que é necessária para que se digam certas coisas. As vezes a minha mudez faz com que eu procure pessoas que, sem elas saberem, me darão a palavra-chave. Mas quem? quem me obriga a escrever? O mistério é esse. Acredito que escrever é uma arte, e a arte é como um incêndio, nasce daquilo que arde, e nos faz compreender a verdade, sendo uma maneira de enganar a morte. Quando escrevo e busco o plausível, torno-me um criador. Aqui eu me entrego ao acaso, ele me guia a seu talento sem que eu me permita a mais pálida interferência. Ou, por outra, constato, verifico, registro, nada invento. Não sou Deus ou o destino. Sou apenas o instrumento do acaso. O destino embaralha as cartas e eu as jogo.

E continuo escrevendo devagar, pelo cálido ar da noite, com as ruas vazias e procuro o eco da inspiração, até achar. Inspiro o ar frio, que reina na noite, em seguida sento na escrivaninha ao lado da janela aberta e fico encarando uma estrela brilhante, penso no seu brilho e, de olhos fechados, penso naquela luz que nasceu há dez mil anos atrás; Qual o significado daquele brilho? Qual o significado de tudo o que até então definira sua essência de estrela? Virei-me para baixo e olhei para a rua em silêncio. De tempos em tempos, o som de passos se elevava e depois desaparecia. Tão vazia estava a minha cabeça que o dom da escrita começou a dissolver o vazio de ideias.

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