O ciclo de trabalho do Programa Arboretum vai desde a coleta de sementes, produção de mudas até o plantio, para restauração e uso sustentável de espécies florestais. Uma das etapas imprescindíveis nesta cadeia é a garantia de qualidade das sementes e para isso, existe um processo bastante criterioso de seleção e análise.
O processo começa ainda nos oito Núcleos de Coleta de Sementes onde coletores capacitados pelo Programa coletam e beneficiam as sementes, antes de enviar para a Base Florestal. “Os coletores entram no fragmento de Mata Atlântica, fazem a marcação da matriz, coletam as sementes e beneficiam, separando o fruto da semente. Os técnicos recolhem esse material junto com uma ficha de identificação, para que tenhamos a maior quantidade de informação possível”, explica Marina Rosa, assistente do Laboratório de Análise de Sementes Florestais do Programa Arboretum.
No Laboratório, ela aponta que é feita uma conferência do material – as fotografias, as fichas de matriz, a ficha de material botânico e a exsicata (uma amostra da planta prensada e seca utilizada para fazer a identificação da espécie): “Quando chega aqui no Laboratório, fazemos o processo de entrada, pesando o lote e fazendo o cálculo de mil sementes, para saber exatamente quantas sementes vieram no lote. Em seguida, realizamos uma revisão bibliográfica e consultamos o Herbário para identificar qual é a espécie que está entrando”.
É realizado ainda o teste de Teor de Umidade, protocolo estabelecido pelo Ministério da Agricultura. O objetivo é determinar o grau de umidade da semente por método de estufa. A água existente no material é extraída por uma aplicação controlada de calor, que consegue reduzir a oxidação ou a perda de outras substâncias, removendo tanto quanto possível a água. No Laboratório de Análise de Sementes Florestais do Arboretum, algumas sementes do lote são colocadas na estufa por 24h, assim os técnicos conseguem determinar se estão secas ou úmidas demais.
Para verificar se visivelmente as sementes estão saudáveis e viáveis para utilização, os profissionais do Laboratório do Arboretum também fazem um corte na guilhotina. Assim, é possível ver com mais clareza o estado interno dessas sementes dos lotes recebidos.
Depois de tudo isso, Marina conclui que as sementes podem ter dois destinos. Caso seja uma espécie cujas sementes não permitem o armazenamento, as sementes irão direto para o viveiro. Se a espécie permitir ser armazenada e não houver o interesse na produção de mudas no momento, as sementes irão para a câmara fria, registradas com todas as informações do lote.
Testagem
Assim que a semente chega ao Laboratório, busca-se entender o que fazer com ela. Durante muito tempo, foi um desafio determinar a durabilidade das sementes, ou seja, por quanto tempo poderia ser armazenada sem perder a viabilidade. Foi necessário pensar também em outros fatores importantes, como a ocorrência de frutos das espécies, visto que algumas frutificam anualmente e outras demoram alguns anos. Essa variação pede uma estratégia para que o viveiro tenha condições de produzir mudas com as sementes coletadas, mesmo em uma ocorrência mais espaçada da frutificação.
“Criamos, assim, um protocolo para esse armazenamento com uma classificação que vai da classe 1 a classe 6, sendo que a classe 1 representa a semente que pode ficar mais de dois anos guardada e 6 a classificação que indica que a semente deve ser enviada imediatamente para o viveiro. Um excelente exemplo é o Ingá, cujas sementes são muito úmidas, difíceis de armazenar porque podem dar fungos e apodrecer”, explica Carlos Eduardo Moraes, consultor do Laboratório do Arboretum.
Cada uma dessas classes de sementes tem uma amostra retirada para testes de germinação com periodicidade definida para cada classe, garantindo o controle da viabilidade de cada lote. Essa classificação, que é feita antes do armazenamento, pode mudar de acordo com os resultados obtidos. É parte do processo fazer essas verificações de comportamento das sementes para que o enquadramento dentro de uma das seis categorias fique cada vez mais preciso.
Carlos ressalta que além dos testes já mencionados, existem outros que também são bastante comuns no dia a dia do laboratório: “Fazemos testes para saber se devemos semear as sementes no sol ou na sombra, tem espécies que não toleram sol direto. Verificamos também se a semente possui dormência, um fenômeno que impede a germinação, então precisamos encontrar um artifício para superar isso, pode ser um choque, água quente ou até lixar a semente”.
Mais testes estão acontecendo agora dentro do Laboratório com um foco maior na germinação, contribuição de Kamila Antunes Alves, pós doutoranda no Programa Arboretum pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da Universidade Federal de Lavras com apoio do Serviço Florestal Brasileiro .
Através de todos esses testes e protocolos, já foram apurados resultados importantes, que contribuem para o aumento do conhecimento técnico e científico sobre o assunto, e consequentemente, maiores possibilidades para a recomposição e conservação da diversidade florestal da Mata Atlântica.