Após os oitenta anos, alguma película que há entre você e o mundo parece que é arrancada, e tudo fica próximo, e agora vê a solidão como uma ferida no rosto. Se preocupa com ataques cardíacos, câncer, a tosse pode ser uma pneumonia.
Solidão é a sensação de vazio e isolamento que nos acerta no plexo. Podemos estar só, mas pleno. Podemos estar rodeados, mas taciturnos. Freud havia dito: “É preciso amar para não adoecer”.
Sei que a solidão pode matar as pessoas de diversas maneiras, pode realmente fazer você morrer. A visão particular minha é de que a vida depende do que ela vê como “grandes explosões” e “pequenas explosões”. Grandes explosões são coisas como casamento ou filhos, intimidades que mantêm você a tona, mas essas grandes explosões contêm correntes perigosas e invisíveis. Motivo pelo qual você precisa das pequenas explosões também: um vendedor atencioso, que sabe como você gosta do seu café, mas a vida é sempre um presente e uma das coisas que vem com a velhice é saber que muitos momentos não eram apenas momentos, mas presentes.
Não importa o que a vida possa trazer (em muitos lares deve haver sofrimento), mas mesmo assim é bom celebrar porque sabemos de alguma forma, a nossa maneira, que a vida é algo a ser celebrado. É como se a vida fosse uma longa e complicada refeição, e agora tivesse chegado o momento de uma adorável sobremesa.