
Duas alunas do Centro Territorial de Educação Profissional do Extremo Sul da Bahia (Cetepes), em Teixeira de Freitas, desenvolveram uma pastilha anestésica à base de cravo-da-índia para aliviar a dor causada pelo uso de aparelhos ortodônticos. O projeto, criado por Larissa Almeida Rocha e Mel Soares Rocha, estudantes do 3º ano do ensino médio técnico em química, surgiu após observarem o incômodo de colegas que enfrentam dificuldades para se alimentar devido ao tratamento dentário. A iniciativa foi orientada pela professora Franciele Santos Soares e contou com o apoio da Secretaria da Educação.
A substância ativa da pastilha é o eugenol, composto presente no cravo-da-índia e conhecido por suas propriedades anestésicas e anti-inflamatórias. Segundo Mel Soares, a proposta foi criar uma alternativa natural que não interferisse no tratamento ortodôntico. “Muitos evitam tomar medicamentos convencionais para não comprometer a movimentação dos dentes, então buscamos algo que pudesse proporcionar alívio sem esse efeito colateral”, explicou. Testada entre usuários de aparelhos, a pastilha demonstrou eficiência na redução da dor e sensibilidade.
A diretora do Cetepes, Vera Lúcia da Silva, destacou o papel da instituição na promoção da iniciação científica. “Somos uma escola de educação profissional que há anos forma alunos preparados para o mercado e para a pesquisa. Projetos como esse mostram como nossos estudantes podem aplicar a ciência para resolver problemas reais”, afirmou. Desde 2019, o Governo do Estado tem incentivado pesquisas escolares por meio do programa Mais Estudos, que apoia estudantes no desenvolvimento de soluções para desafios cotidianos.
A professora Franciele Santos Soares, que orientou o projeto, enfatizou que a ciência nasce da observação da realidade. “O ensino médio técnico proporciona aos alunos um contato direto com o laboratório, permitindo que busquem respostas para questões do dia a dia”, afirmou. Segundo ela, o apoio da escola e de programas governamentais é fundamental para que jovens cientistas tenham espaço para desenvolver suas ideias.
Projetos semelhantes já foram registrados no país, como o desenvolvimento de um biofilme cicatrizante à base de curcumina por estudantes do Instituto Federal do Ceará (IFCE), em 2021. Na ocasião, os alunos criaram um material capaz de acelerar a cicatrização de feridas, usando um princípio ativo natural. Assim como no caso da pastilha anestésica do Cetepes, a pesquisa foi conduzida por estudantes do ensino médio técnico e recebeu reconhecimento em feiras científicas.
Embora Larissa e Mel não tenham planos de seguir com a produção da pastilha, ambas consideram a experiência um marco na trajetória escolar. “Aprendemos muito sobre pesquisa e desenvolvimento de produtos, além de vermos o impacto direto do nosso trabalho”, disse Larissa. A professora Franciele reforçou que, independentemente da continuidade do projeto, a descoberta das alunas já representa um avanço. “Elas perceberam que podem fazer ciência e transformar a realidade ao seu redor, e isso, por si só, já é um grande resultado”, concluiu.
Por Jônatas David
(Estagiário sob supervisão)