Remexendo memórias, relembro a efervescência do campus da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, com suas belas árvores, pavilhões Calmon, Amado, Nabuco e Adonias e o canto dos pássaros quando o ainda estudante Taurino Araújo liderava as rodas de discussão com o seu natural domínio da palavra, e fazia de nossas manhãs articulada aventura pelos mais diversos ramos do saber (Filosofia, Ciências e Artes), muito mais que simplesmente textos e provas para os professores, valiosas e transformadoras contribuições para o pensamento universal.
É lógico que no início dos anos 1990 ainda não sabíamos que aquela conjugação sistêmica para diminuir distâncias e aproximar pessoas fosse terapia em grupo e seminário em torno da Hermenêutica da Desigualdade: uma Introdução às Ciências Jurídicas e também Sociais que se ora tornaria livro de sucesso, com merecidos e ampliados impactos na saúde, negócios, governo e terceiro setor; análise, método, pedagogia e autoeducação; Hermenêutica, Economia, História, Transpessoalidade, Antropologia e Semiótica, embora tivéssemos a premonição de tudo isso.
Para mim, a vida é um livro, e a leitura — disse André Maurois — é diálogo incessante: “o livro fala e a alma responde”. Por isso, em Taurino Araújo, a inclusão total do indivíduo é um processo complexo, porém possível, inspirador de perguntas e de múltiplas respostas que constituem pontos de partida e de chegada tanto para promover autoafirmação quanto justiça social: problemas que deveriam ser plenamente compreensíveis para todos e todas que deles quisessem se valer para (auto)análise e construção de uma sociedade mais humanizada e justa, “o pensar bem sobre os diversos temas da vida e da morte”, o total respeito à realidade, à justiça e às diferenças, com amor e discernimento, o reforço à figura do “receptor também protagonista”.
Nos 172 anos de Castro Alves e 60 da Academia de Letras de Ilhéus (2019), através de resposta a uma postagem do imortal Aleilton Fonseca, no Facebook, pude lembrar a abrangência do discurso de Taurino Araújo, CBJM em certa tarde de sábado, 14 de março de 1992. Palavra franqueada por Francolino Neto: “É tarde, mas não é tarde! Devemos preservar a nossa cultura, a memória do povo brasileiro, através do ícone Castro Alves”. Agora, ao inserir a desigualdade entre os conceitos jurídicos fundamentais, Taurino reúne poesia, logos e mito ao se tornar guardião de sua eterna potência, daquele mundo melhor, misto de realismo e de esperança, na vastidão do Benemérito da Liberdade e da Justiça Social que é, ao lado de Jorge Amado e, sobretudo, do genial realizador de sonhos em que se transformou através da estética transdisciplinar de sua obra: “Eu acredito em Milagres! É tarde, mas não é tarde”!.
Por Suzete Ribeiro. Bacharel em direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-Ba, advogada militante em Salvador, especialista em Defesa do Consumidor, Previdenciária e Cível.suzette_ribeiro66@hotmail.com