A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) divulgaram ontem um manifesto conjunto afirmando que a tabela de frete vai provocar um efeito cascata nos preços dos produtos e serviços. O manifesto foi divulgado antes da publicação da nova tabela do frete pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), no final da tarde de quinta-feira.
O presidente em exercício da Fecomércio, Kelsor Fernandes, apontou a necessidade de apoio do estado e do município para lidar com a questão. Segundo ele, em alguns casos, a nova tabela provocou um aumento de até 200% no valor do frete.
“A tabela exagera no aumento. Se houvesse a possibilidade, que fosse feito um ajustamento (dos valores), mas não da maneira como foi feito. Na tentativa de agradar uma categoria, o governo criou um tabelamento desproporcional e que sufoca o comerciante”.
Durante a greve dos caminhoneiros, o setor registrou prejuízo estimado em R$ 150 milhões, por dia. Fernandes afirmou que, tendo que arcar com despesas maiores por conta do frete, o empresário não terá como criar novos postos de trabalho e o consumidor final também será afetado, porque terá que pagar mais caro pelos serviços.
O diretor executivo da Fieb, Vladson Menezes, informou que a despesa que tinha com frete – retorno da Bahia para São Paulo -, por exemplo, passou de R$ 2.500 para R$ 5.399, um aumento de 116%. “O comerciante não tem muitas alternativas nesse caso. Ele vai acabar repassando os custos e tornar a mercadoria mais cara, prejudicando a população. Isso quando ainda existe mercado, porque dependendo do reajuste, ele vai fechar as portas e demitir pessoal. O governo disse que vai rever a tabela, mas temos que ver se essa mudança será produtiva”, disse.
O presidente da Associação de Permissionários da Ceasa (Aspec), Eguinaldo Nascimento, não acredita que a tabela será seguida à risca pelos caminhoneiros. Para ele, o desemprego e a necessidade de fazer bons negócios vão levar os trabalhadores a negociar.
“O valor do frete precisa ser revisto porque não cobre os custos dos caminhoneiros. Apoio o aumento nos preços, mas não acredito que essa tabela vá encarecer tanto o serviço. Além disso, existem milhares de caminhoneiros procurando trabalho, e que também tem interesse em negociar os fretes. Não acredito que isso vai mudar”, disse.
Ele diz que percebeu aumento de 10% no valor do frete nos últimos dias, mas que, por enquanto, não precisou repassar a diferença para o consumidor final. No entanto, ele não descarta que o reajuste nos valores caso os preços dos fretes continuem subindo. “Hoje, estou conseguindo segurar esse aumento sem passar para o consumidor. Amanhã, eu já não sei”, afirmou.
Os clientes de uma transportadora paulistana, que adotou a nova tabela desde sua implementação, desaprovaram os novos valores. “Eles têm reclamado bastante. Desde que entrou em vigor, a gente não conseguiu fechar nenhum carreto”, disse a gerente comercial, que preferiu não se identificar.
“Hoje (ontem), cotei três carretas para Salvador e ninguém fechou, foram atrás da concorrência, que talvez não esteja usando a nova tabela”. Ela conta que o transporte em uma carreta com capacidade de 25 toneladas, que antes saía num valor de R$ 30 mil a R$ 33 mil, hoje sai por R$ 47 mil, um aumento de mais de 51%.
“Quem trabalha com carreta própria talvez possa negociar, mas nós que trabalhamos com terceiros não gostamos do aumento que veio com a tabela”, disse a gerente.
Avaliação
No setor empresarial, há forte reação contra a tabela de frete mínimo. Anteonteom, por exemplo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) avisou que iria recorrer à Justiça, por meio de um mandado de segurança, para impedir o tabelamento do frete rodoviário.
“Independentemente de qualquer coisa, por princípios, somos contra o tabelamento de preços, que fere a lei de competitividade do mercado. Estamos retornando a um país de 30 anos atrás”, afirmou o novo presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.
O presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Celestino Zanella, avalia que a alteração no tabelamento do frete é muito recente e que é preciso tempo para avaliar como os produtores serão afetados.
“Achamos que o tabelamento de frete é contra a livre iniciativa. Preferimos a livre concorrência. Mas temos que lembrar que caminhoneiros, produtores, todos fazemos parte do mesmo sistema. Precisamos de paciência para que decisões corretas sejam tomadas”.
Veja os casos excepcionais em que a tabela de preços mínimos não será aplicada:
– Quando houver a necessidade de Autorização Especial de Trânsito – AET;
– Quando houver a locação do veículo, implemento ou composição completa por uma das partes do contrato de transporte;
– Quando a contratação envolver apenas o veículo ou o implemento da composição que será utilizado na operação de transporte;
– Quando o veículo não for movido a diesel;
– No transporte de produtos radioativos;
– No transporte de valores;
– Na coleta de lixo;
– Nos sistemas de logística reversa listados no Artigo 33 da Lei nº 12.305/2010, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Fonte: Correio24h