Sul da BA: Alfabetizada aos 22 anos, aluna cega supera dificuldades para fazer Enem

Valdirene Vieira tenta uma vaga no curso de Geografia da Uesc, na Bahia.

Outra jovem, de 25 anos, vai tentar uma vaga pela 3° vez, em Itabuna.

Sul da BA: Alfabetizada aos 22 anos, aluna cega supera dificuldades para fazer Enem
Valdirene em sua casa estudando para a prova do Enem 2014. (Foto: Imagens/Tv Santa Cruz)
Alfabetizada aos 22 anos, a estudante Valdirene Vieira Bonfim, de 37 anos, superou dificuldades com os estudos para fazer as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A dona de casa sonha em cursar a faculdade de Geografia da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), no sul da Bahia. Há sete anos ela tenta conquistar uma vaga no curso pelo Enem e, nos próximos dias 8 e 9 de novembro, vai tentar mais uma vez.

“Nasci cega, com glaucoma congênito. Eu me alfabetizei adulta. Eu fiz a escola normal, já a 7° e 8° séries fiz supletivo. Terminei o segundo grau com 31 anos. Eu sempre tive vontade de estudar. Aqui não tinha professores para ensinar o braile. Aí, quando surgiu, em 2009, minha mãe ficou sabendo e comecei a estudar” explica a estudante de Itabuna, sul da Bahia.

Para Valdirene, a maior dificuldade com o Enem é estudar. Ela faz um curso pré-vestibular e conta que não há material para acompanhar os assuntos. “Está muito difícil porque o material que o professor dá aula não está em braile, não tenho com quem estudar, quem possa ler para mim. Apesar disso, eu acho que a pessoa não pode desistir, tem que continuar insistindo. Fácil não é. Foi muito difícil concluir o segundo grau, consegui com apoio da minha família. Quem está estudando hoje está tendo mais acesso aos conteúdos, pode pesquisar no computador para estudar e eu ainda não tenho tanto domínio. Ainda preciso de ajuda para usar”, relata.

Para a estudante Luzia Tomaz de Souza, 25 anos, que também é cega e possui glaucoma congênito, a prova do Enem é o caminho para alcançar o objetivo de se tornar psicóloga. Ela já fez a prova por dois anos seguidos, 2009 e 2010, por incentivo da família e dos amigos. Este ano, ela irá tentar mais uma vez e já solicitou a ajuda de um ledor para realização do exame. “A prova é longa, sempre peço em braile e um ledor, porque fico cansada”, diz Luzia.

Moradora de Itabuna, a jovem conseguiu entrar na escola aos seis anos. “Sempre quis estudar e minha família apoiou. Quero ser psicóloga porque admiro o trabalho deles. Eles estudam o comportamento humano, acho interessante o trabalho, a pesquisa”, conta Luzia.

Ao contrário de Valdirene, Luzia explica que não tem dificuldade para estudar, pois acompanha os conteúdos com auxílio do notebook e com material cedido pela Fundação Regina Cunha, em Itabuna.

Desde 2011, a instituição foi reaberta e funciona dentro de um hospital na cidade. No local, há uma biblioteca e uma equipe composta por médicos, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos para ajudar a pessoa com deficiência visual a conquistar a independência. “A pessoa deficiente visual ou cega, ela só tem capacidade de fazer 10% do que um vidente faz. Então ele precisa ser treinado, habilitado e ter uma vida independente”, disse o oftalmologista Ruy Cunha, que atua na fundação.

“Pego o material adaptado emprestado na fundação e trago para casa, estudo e depois levo de volta. Baixo livros da internet também. No notebook, assisto aulas online. Estudo mais sozinha. Quando tenho dúvida, pergunto a alguém que sabe mais do que eu”, explica em tom de brincadeira.

Mesmo fazendo o Enem pela terceira vez, Luzia, assim como Valdirene, não pensa em desistir. “A gente precisa tentar. É muito importante a gente tentar e não podemos parar no tempo. Amigos sempre me dão conselho me orientam: ‘você é inteligente, não pode ficar sem estudar, parada’, essas coisas me incentivam”, conclui.

 

 

 

Fonte: Maiana Belo/G1

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