“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno.” (Salmos 139.23-24)
Deus conhece e sabe todas as coisas. Deus conhece todas as pessoas. Como então o salmista lhe pede “sonda-me e conhece o meu coração”? Isso se chama submissão: a escolha de não viver apenas das próprias perspectivas, mas buscar a avaliação e orientação de Deus. Essa é uma das ideias e significado de uma vida cristã. Tudo que Deus é ou pode fazer não necessariamente produz efeitos em minha vida. Ele não é como a Lei da Gravidade que, querendo ou não, estarei definitiva e irresistivelmente afetado por ela. O que há de mais especial e precioso na realidade da existência de Deus é que Sua influência sobre minha vida é uma possibilidade e não uma obrigação. Se eu não quiser, posso deixa-lo fora de minha vida. Por isso é possível que eu pratique “submissão” em minha fé. É porque posso resistir e descrer, que posso crer e me submeter.
Nem todos estamos escolhendo a fé e submissão a Deus. Muitos vivem como se Deus não existisse pois, de fato, não creem que Ele exista. Outros até consideram a possibilidade de que Ele exista mas, neste caso, não seria alguém com quem se possa relacionar, sendo muito mais uma força criadora que uma pessoa. E não alguém que possa se oferecer em relacionamento e assim participar de nossas vidas, orientar-nos, consolar-nos, fortalecer-nos. Creem que, caso exista, não se trate de um ser pessoal, que ame, compreenda, se interesse ou intervenha. Para outros, Deus não nos criou, nós é que o criamos. Logo, Ele existe apenas em nosso imaginário. E, talvez, seja razoável admitir que, de certa forma, somos criadores de deuses e corremos o risco de fazer de Deus o que Ele não é. Neste caso, acabamos nos relacionando com esse “Deus” que criamos! Assim como criamos imagens falsas de nós mesmos e nos iludimos sobre quem somos, também podemos criar ideias e imagens falsas de Deus.
Mas as Escrituras falam de um Deus que É. “Eu sou o que sou”, afirmou Deus a Moisés. Jesus nos surpreende e ensina que o Deus que tudo criou é um Pai amoroso, é um Deus carinhoso. Bem-aventurada a pessoa que crê no Deus que é e, crendo, deixa-se surpreender e anseia conhece-lo. Bem-aventurada a pessoa, não apenas crê no Deus que é, mas deseja saber quem é aos olhos de Deus, que sabe a verdade sobre todos. Este é o pedido do salmista. Sonda-me e conhece meu coração não é um pedido para que Deus descubra, mas para que revele quem o salmista é. O salmista quer saber o que Deus sabe sobre si. Quer ser guiado pelo olhar de Deus. Essa submissão pode mudar tudo em nossa vida. Veja a que distância o salmista está de tantos que sequer creem que Deus exista. Ele não apenas crê, ele pede proximidade. Ele crê que Deus o conhece e quer se conhecer a partir do conhecimento de Deus. Submissão. Ela é o verdadeiro sinal de que verdadeiramente cremos no Deus que é quem é.