É um fenômeno químico, o sono é explicável, como tudo na terra, um dia descobrirão a fórmula do sono, como descobriram a da água, H2O. E então ninguém mais esperará em vão a manhã entre esses lençóis inúteis, debaixo desses edredons tão ridículos quanto inúteis. Bastará derramar todas as noites num copo d’água três gotas de um frasco para se sentir fresco e bem-disposto, como ao sair de uma noite inteira de sono profundo. Os olhos fixos no teto, espero que um dos meus pensamentos me conduza ao sono, espero olhando para o teto, mas o sono não vem. Não quero o sono que vem de uma garrafa de vinho. Bebo para relaxar.
Muitas vezes, nesses momentos do sono, impulsos e ideias já prontos há muito tempo e represados no inconsciente assaltam e o inundam de um golpe, como consequência de um evento externo e ocasional. Sinto que posso ficar dormindo para sempre suspirando com alívio. O alívio de se ter livrado da realidade. Este é meu sentimento. No sono entro em guerra com a merda da minha fantasia, com meu eterno mundo invisível. Acordei, sentei-me na cama. Testei o colchão. Esta é a cama onde eu finalmente passo do sono ao ato de viver. O sono é como a ficção ou a ficção é como o sono.