Solidão

Solidão

Como transmitir a beleza da solidão? Que ninguém se queixe de falta de ocorrências para escrever melhor. E a incapacidade para gritar o grande mundo interior. Sei que a aceleração da história transformou profundamente a existência individual e a solidão, que, nos séculos passados, se desenrolava, do nascimento até a morte, numa única época histórica, existindo muito menos solidão, parece o contrário, pois o mundo era menos povoado, mas morria-se aos 40 anos, existia mais tradição, hoje a vida salta duas, às vezes mais.

Se, antigamente, a história avançava muito mais lentamente do que a vida humana, hoje é ela que vai mais depressa, que corre, que escapa ao homem, de tal modo que a continuidade e a identidade de uma vida correm o risco de se romper, e aí o suicídio, a dor maior do solitário num mundo sem rosto, enchendo- se todo de uma sensação anônima em que há de tudo: tristeza, alegria, desejo, e medo de viver.

A beleza da solidão atual é que o mundo se mostra de várias formas puxando o solitário, mas se esta solidão, após momentos sabáticos, se aproximar do outro e se reconhece na distância e olhos abertos, o belo se revela, nunca em todos os seus detalhes, porém atravessa o muro engessado do desespero.

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