Sob a prova da dor

“Foram-se os meus dias, os meus planos fracassaram, como também os desejos do meu coração.” (Jó 17.11)

Estamos de volta ao coração de Jó. Seu lamento torna-se cada vez mais denso, mais intenso. Quanto tempo já passou? Não há como saber ao certo, mas parece-me não ter sido apenas alguns dias. Pelo menos semanas ou meses. Alguns afirmam ter sido mais de ano lidando com a dor. Sua alma caminha na noite escura. Para nós, parte de uma sociedade avessa a dor, em que pecado é não ser feliz e não tirar o melhor da vida – seja lá o que “melhor” possa significar – o sofrimento é visto como uma doença. Embora alguns possam ser, achamos que todos são. Não há lugar para ele. Nem mesmo dentro da igreja.

Pessoas esquecidas de Deus estão fazendo de tudo para ser felizes. Pessoas de Deus ou, com alguns denominam, o povo de Deus, também. A vida precisa dar certo, tudo tem que funcionar, a igreja tem que crescer, “minha casa será uma casa de benção”… e não resta muito lugar para o fracasso. Desse jeito, cada vez menos conseguimos lidar de forma realista com nossos problemas. Não sabemos sofrer e nem perder. Isso nos desabona espiritualmente. A intensa provação é como fogo testando a devoção de Jó e a teologia de seus amigos. O que ela poderia fazer por nossa devoção e teologia?

Quantos de nós teriam a têmpera de Jó para continuar com Deus, tendo Deus contra si? Veríamos sentido em nossa fé se ela não funcionasse como esperamos? E se a não houver cura e a morte chegar? Estamos diante de uma história em que o herói da fé está sozinho, sangrando, incompreendido e confuso. Ele está mais para “calda” do que para “cabeça”, se é que me entende. O que será que Deus está vendo em seu coração? Satanás aposta que Jó amaldiçoará Deus. É uma questão de tempo. Mas Jó, embora desgostoso da vida, ainda olha com respeito para Deus. Fico pensando: seríamos capazes de agir como ele?

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