“Então um dos serafins voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz. Com ela tocou a minha boca e disse: ‘Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua culpa será removida, e o seu pecado será perdoado’.” (Isaías 6.6-7)
Um pecador perdoado é ainda um pecador, e nenhum pecador deveria se esquecer disso. Não para permanecer sentindo-se culpado, pois o perdão de Deus é verdadeiro e eterno. Mas para não desviar-se da graça que o faz merecedor, sem nenhum mérito. Que o possibilita tanto andar de cabeça erguida quanto de fronte inclinada, seguro do amor e perdão de Deus e ciente de sua fraqueza e maldade. Um pecador sem perdão pode, no máximo, saber lidar com outros pecadores por ser lembrado pela própria culpa de que não é melhor que nenhum outro pecador. Isso já seria muito bom pois colocaria mais dignidade nas relações humanas. Mas o pecado nos cega, especialmente sobre nós mesmos. Coamos mosquitos e engolimos bois, vemos ciscos nos olhos dos outros e ignoramos paralelepípedos em nossos próprios olhos. Um pecador perdoado pode (e deve) ir muito além.
Um pecador perdoado é alguém incluído no Reino de Deus. Ele recebe direitos que lhe permitem aprender a confiar e nutrir certezas sobre a presença, propósito e comunhão com Deus. A ele é concedida a dádiva de ir aprendendo a sentir-se amado, aceito e aprovado. Ele aprende a parar de fazer contas sobre a justiça própria, sobre o quanto é bom ou faz o bem. Qualquer justiça própria, bondade ou boas obras ele compreende como parte de fluxo da graça em sua vida. Algo que recebe como inspiração e que resulta da quantidade não mensurável de misericórdia e graça que recebe de Deus. Nele cada vez menos tem poder a tentação de ser um legalista, de julgar e condenar outros. Ele engole menos bois e se escandaliza com os paralelepípedos há tanto tempo acomodados nos olhos. Afinal, como poderia, visto que suas credenciais foram dádivas, nutrir vaidade, orgulho, presunção ou intolerância com outros?
Por isso um pecador perdoado é alguém que ama, compreende e acolhe pecadores. Sejam ou não perdoados! Ele tem respeito por eles, pois são amados pelo mesmo Deus que lhe deu perdão e libertação. Ele não é do tipo que pretende colocar-se ao lado de Deus para condenar pecadores, até porque já compreendeu que Deus quer salvar e não condenar pecadores! Ele é do tipo que fica do lado de pecadores e roga a Deus por perdão. Ele ajoelha-se ao lado do culpado e roga para que a mesma misericórdia que o alcançou, alcance mais um pecador. Ele não se vê como um guardador de Deus, mas com um guardador do próximo (Gn 4.9). Ele fala a favor de pecadores na presença de Deus e a favor de Deus na presença de pecadores. Ele é um agente de reconciliação. Quanto mais se tem experiências com Deus, é assim. Os sinais dessa experiência nos lembram de Jesus, que veio, não para chamar justos, mas pecadores para que voltem-se para Deus (Lc 5.32); não para destruir a alma dos homens, mas para salvá-los (Lc 9.56)!