“Então um dos serafins voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz. Com ela tocou a minha boca e disse: ‘Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua culpa será removida, e o seu pecado será perdoado’.” (Isaías 6.6-7)
Estamos caminhando com Isaías em sua experiência com Deus. A leitura e reflexão nela tem me ajudado a avaliar minha própria experiência com Deus. Somos de um outro tempo e se está lendo essas reflexões é bem possível que seja alguém envolvido com a prática religiosa. Temos diversos templos, diversos líderes. Temos muitas versões do livro Sagrado. Temos muitas músicas e muitos cultos. Há tanta opção que podemos facilmente não fazer outra coisa além de participar de eventos de fé, se desejarmos, tamanha a oferta. E há para todos os gostos. Há um sem número de livros, revistas, blogs, sites, canais de YouTube, estações e rádio e televisão… certamente esqueci alguma coisa… há coisas demais. Mas isso significa que estamos melhores, o mundo tem melhorado, nossas famílias estão melhores e somos pessoas melhores? Não. Porque experiências religiosas necessariamente não são experiências com Deus.
Havia uma questão que simbolizava a contradição de Deus na vida de Isaías – seus lábios impuros (v.5). Mas em sua experiência com Deus ele recebeu perdão. Algo do altar, do lugar da comunhão e da adoração, foi ofertado ao profeta. E o anjo pediu a Isaías para reconhecer isso: “Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua culpa será removida e o seu pecado perdoado”. A comunhão com Deus faz isso por nós. O perdão é uma dádiva da comunhão com Deus. Ele não perdoa estranhos pois o perdão de Deus não faria sentido se fosse apenas um “pode seguir sua vida que não vou lhe castigar”. O perdão de Deus é fruto do envolvimento dele conosco. O perdão de Deus nos coloca em pé e nos renova para a vida. Não há experiência com Deus sem experiência com o perdão de Deus. Se pensamos que estamos em comunhão com Ele e não percebemos o movimento do anjo trazendo brasas do altar, se não percebemos que Ele está nos perdoando e removendo culpas, é porque estamos achando que somos quem não somos e isso porque nos distraímos de Deus, perdendo-o de vista. E quando isso acontece, um ídolo aparece no lugar de Deus.
Somos pecadores. Gerson Borges canta algo muito interessante e apropriado: “Não é de vez em quando que eu peco, não é de vez em quando que Deus me perdoa: Eu sou pecador e Deus é amor! Não é que eu não queira a santidade, não é que eu não queira viver de verdade: Eu sou pecador e Deus é amor!”. E sabe qual o nome que ele deu a esta canção? “Meditação”. Nossa desatenção de Deus nos ilude sobre nós. E essa distração às vezes é promovida por nossas ações e agenda religiosa. Algo que pretensamente nos aproximaria de Deus acaba nos afastando. Algo que deveria nos dar mais clareza sobre Deus, sobre nós mesmos, sobre o nosso próximo e sobre a vida, nos torna obtusos. Que você viva experiência com Deus. Jamais deixe de perceber o perdão e a libertação que ela proporciona. Que isso lhe faça humilde e sensível aos seus iguais, os demais pecadores. E que sua religiosidade não seja fonte da distração, que não lhe distancie de Deus enquanto parece alimentar sua comunhão com Ele.