“Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Isaías 6.5)
Há um outro importante sinal de que estamos em experiência com Deus. De forma geral o ambiente religioso cuja natureza tem a ver com esse encontro, algumas vezes produz algo que é justamente o oposto do sinal esperado. Refiro-me à expressão de Isaías declarando-se pecador como seu próprio povo é pecador: “sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros”. Isaías teve uma visão de Deus e isso o levou a ver a própria iniquidade e a percebe que não era em nada diferente dos demais. O que acontece quando temos “visões de Deus”? Como reagimos ao fato de conhecermos as Escrituras, de termos sido evangelizados e de termos aprendido a respeitar certos limites e observar práticas de vida? As vezes o ambiente religioso produz um sentimento de distância e diferença entre nós e as demais pessoas, em particular as não cristãs.
Jesus contou uma parábola que falava de dois homens que foram ao templo. Um era fariseu, um religioso disciplinado e muito bem informado sobre a lei e os costumes. O outro era um publicano, mal visto pelos fariseus e considerado impuro e indigno. Para os fariseus havia dois tipos de pessoas indignas e impuras: os publicanos e os pecadores, não observadores da lei (Mt 9.11). As consideravam pessoas que não eram bem-vindas no templo pelos critérios levíticos e seus desdobramentos, conforme a tradição dos mestres da lei. Jesus transgrediu em sua parábola colocando o publicano dentro do templo, ao lado do fariseu. E transgrediu mais ainda quando colocou os dois orando. Mas o pior na visão do fariseu, vem depois, pois na parábola Deus ouve a oração do publicano e não ouve a do fariseu. A verdadeira experiência com Deus não nos afasta das pessoas, mas envia-nos a elas. Não nos leva a pensar que somos superiores ou melhores, mas que somos tão necessitados do perdão e da misericórdia de Deus quanto elas. Isaías percebeu isso.
A vida em constante experiência com Deus nos leva a superar fraquezas e resistir a tentações. Somos inspirados a fazer o bem e a sermos bons. Mas tudo isso não nos faz realmente diferentes, no sentido de melhores ou superiores às demais pessoas. Pois reconhecemos que esse avanço, esse progresso e amadurecimento é resultado da graça de Deus. E jamais seremos perfeitos. E podemos até dizer que, quanto mais melhorarmos, tanto mais cresceremos na consciência de que somos frágeis e fracos. E isso nos fará respeitar reverentemente o nosso próximo em lugar de despreza-lo. Isso nos fará mais compreensivos e compassivos. Não acusaremos pessoas diante de Deus. Suplicaremos a Deus misericórdia, para ele e para nós. Como tem sido suas experiências com Deus? Basta ver como tem sido o seu relacionamento com o seu próximo. Se o deus de sua experiência tem lhe tornado duro e implacável, distinto e separado do outro, é possível que não se trate realmente de Deus.