“Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus; assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura.” (João 13.3-4)
A leitura deste capítulo, o 13 de João, é singularmente tocante ao meu ver. O momento vivido por Jesus tem contornos singulares e contraditórios. Ele está no ápice de seu relacionamento com os discípulos. Já estão juntos a cerca de três anos, mas o tempo da partida estava logo à frente. Os discípulos ficariam desnorteados com os acontecimentos que se aproximavam. João destaca que Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo de seu poder, de sua vontade. Mas estava chegando a hora em que Ele oraria: “Não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mc 14.36). Deveria abrir mão de todo Seu poder e se deixar julgar e condenar por pecadores. Para vencer o pecado e a morte Ele precisaria render-se aos pecadores e morrer. Em meio a uma tensão como essa a reação natural é não ter paciência. É irritar-se e distribuir gritos. Mas veja o que Jesus fez!
Em lugar de uma atitude autocentrada, egoísta, Jesus escolheu a generosidade e a humildade. Todos estavam ocupados consigo mesmos, mas Ele escolheu ocupar-se dos outros. Levantou-se da mesa, tirou Sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Jesus se vestiu de servo. Não servo no sentido que nossa cultura religiosa forjou, que mais simboliza honra que humilhação, que mais alimenta orgulho que impõe submissão. No caso de Jesus tinha a ver com dedicar-se ao outro para servir. Tinha a ver com descer e não com subir. Sempre imagino que os discípulos ficaram confusos com a atitude de Jesus e me pergunto: quantos de nós entenderiam a mensagem e corariam de vergonha? Servir não é a atitude mais comum entre nós. Se formos realmente sinceros precisaremos admitir que não nos parecemos muito com Jesus. Nos parecemos mais com os discípulos.
Cientes disso devemos orar e procurar mudar. Servir é um valor inegociável no Reino de Deus. O Rei é um Servo. A fé da qual somos herdeiros aponta para um futuro em que seremos como nosso Mestre se aprendermos a imitá-lo; se amadurecermos espiritualmente. E se formos como Ele, seremos servos! Mas sonhamos em ser reis. A luta cristã, em grande parte, se revela a luta contra nossa natureza que anseia por poder e não por amar; mais pretende mandar que obedecer; que busca benefícios em lugar de serviço. Entendemos muito pouco sobre servir e sobre sermos servos. Isso é estranho, considerando o Cristo a quem cantamos quando nos reunimos. Nosso mal e nossos problemas tem mais a ver com isso do que com tantas outras coisas pelas quais brigamos e nos preocupamos. Servir ou não servir? Eis a questão!