Por Pedro Ivo Rodrigues
A saúde é o bem mais valioso para o ser humano, em qualquer cultura, de qualquer classe social e de qualquer parte do mundo. Afinal, de que adianta ter sucesso nas demais áreas da vida se não se tem um organismo e uma mente sadios para usufruir dessas conquistas? “Mais vale um cachorro vivo do que um leão morto”, diz um antigo provérbio.
Assim, a medicina é uma das ciências mais importantes para a sociedade humana, fazendo jus aos gigantescos investimentos que recebe em pesquisas e aquisição de tecnologia de ponta, bem como na captação de profissionais altamente qualificados pelos principais centros de formação espalhados pelo globo. A sua evolução está diretamente relacionada à expectativa de vida da espécie e ao progresso nos mais variados setores. O avanço dessa área foi mencionado pelo economista britânico Thomas Maltus (1766-1834) como um dos fatores envolvidos no crescimento demográfico, que ele definia como responsável pela escassez de alimentos, em sua teoria controversa da desarmonia entre o crescimento populacional, em progressão geométrica, e o da agricultura, em progressão aritmética. Assim, quanto mais pessoas, menos comida. Podemos pensar no exemplo do tema enfocado neste artigo que, por essa ótica, parece que quanto mais pessoas precisam da saúde no nosso país, menos têm acesso.
No Brasil, país marcado por uma divisão abissal entre as classes sociais e alicerçado desde os seus primórdios pela cultura do privilégio, é um grande desafio para as esferas de governo a demanda excessiva por tais serviços, uma vez que os hospitais públicos têm que atender diariamente as vítimas do elevadíssimo índice de violência urbana, endemias, acidentes, partos, etc. Somado a isso, há o problema da falta de médicos em diversas regiões.
O custo da saúde é alto. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dezembro de 2009, de cada R$100,00 gastos nesse campo, as famílias brasileiras contribuem com R$57,39, o poder público com R$41,59 e os planos privados com apenas R$1,02. Nas nações mais desenvolvidas, essa ordem é de aproximadamente 72% dos custos bancados pelos governos e os 28% restantes pela sociedade, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os médicos, pela grande responsabilidade que lhes é delegada, devem ser bem remunerados. Contudo não pode ser admissível que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) determine o corte de 512 vagas em cursos de medicina, com o escopo de zelar pela qualidade dos mesmos, e que a sociedade brasileira, através dos seus representantes, não investigue a fundo se as deficiências alegadas existem e, caso existam, se justificam a medida em toda sua abrangência.
Muitos médicos são verdadeiros heróis anônimos, conduzindo com diligência e espírito altruísta a nobre missão que abraçaram e pela qual prestaram juramento. Entretanto fica a pergunta: a quem interessa que o cidadão comum não tenha acesso à saúde de qualidade?