No assalto que sofri no acidente de carro, além das cirurgias que fiz, ele aparece sempre. Quando pequeno, eu achava que o corpo era um recipiente para o sangue. Hoje sei que o sangue representa uma parte relativamente pequena do volume total do corpo, o sangue espalha-se pelos minúsculos canais que atravessam o corpo como uma espécie de malha pela qual todos os tipos de gases e nutrientes são trasportados. Assim como tudo que existe no corpo, o sangue não sabe o que faz.
Encontra-se em movimento contínuo, bombeado pelas veias graças as batidas do coração, e corre pela carne em ditos finos como o olho de uma agulha. Quando vemos sangue, quase sempre é como resultado de um problema no mundo exterior: “Sanguei” com uma coronhada na cabeça, no assalto que sofri, o sangue apareceu. Ver a chegada do sangue pode ser banal, pode ser preocupante e pode ser catastrófico. O fato de que o sangue é a morte com frequência, encontram-se próximos poderia ter feito com que o vermelho fosse a cor da morte, porém não foi o que aconteceu, o preto é a cor da morte, ligada à noite e ao nada, enquanto o vermelho, pelo contrário, é a cor da vida e do amor. Poucas coisas são mais bonitas de ver do que o sangue que sobe ao rosto de uma pessoa jovem e confusa para corar-lhe as bochechas ao encontrar os olhos de outra pessoa jovem.