“São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo.” (Salmos 19.10)
Não sei você, mas eu tenho problema com sabores. Deixe-me explicar: parece haver uma conexão irremediável entre o quanto um produto é saboroso e o quanto ele pode prejudicar sua saúde. Claro, há exceções! É uma terrível contradição entre paladar e saúde: os alimentos mais saudáveis não são, via de regra, os mais saborosos. Já o contrário costuma ser verdade: quanto mais saboroso, menos saudável. Esse é o meu problema com sabores. Mas, sejamos conscientes, é um problema que nós causamos. Desenvolvemos uma industria alimentar que ocupa-se, não de alimento, mas de produtos que possam ser vendidos em escala cada vez maior. Visto que a ordem é vender, consumir, criam-se alimentos elaborados para conquistar os paladares, e isso normalmente ao custo da saúde. Gostamos da comodidade e rapidez dos alimentos prontos ou quase prontos. E a falta que sentimos de sal e açúcar em nosso paladar é maior que a que precisamos para permanecer saudáveis. Bem, não precisamos fazer uma revolução por causa disso, mas devemos ter cuidado. O que comemos define se viveremos bem e se nossa vida será breve ou longa. Tenhamos cuidado. E sabe o que mais: em nossa espiritualidade enfrentamos o mesmo dilema entre sabor e saúde.
Na espiritualidade a saúde tem a ver com o que poderíamos chamar de “estado de espírito”. Foi o termo que melhor se aproximou do que gostaria de significar. Nosso “paladar” espiritual pode ser um grande obstáculo ao nosso “estado de espírito” ou saúde espiritual. O que mais realiza os desejos do coração pode ser o que menos coopera ou mais prejudica nossa saúde espiritual. Como nosso paladar foi desvirtuado pela ambição do mercado, nossos desejos do coração foram corrompidos pelo pecado. Jeremias escreveu que precisamos ter cuidado com ele, com o coração, pois ele é enganoso (Jr 17.9). Jesus disse que é dele que vem o que nos contamina (Mt 15.19). No verso de hoje Davi toca, poeticamente, em duas fortes tentações para nosso coração: o poder e o prazer. O ouro tem a ver com riqueza: poder. O mel com com sabor: prazer. O poder e o prazer podem tornar-se dominantes em nossa vida, pois há neles um sabor que atrai nosso coração. Mas Davi declara que há algo melhor: a vontade de Deus. Ela é melhor que o ouro e o mel, traz mais felicidade e realização do que o poder e o prazer. E veja que Davi não diz apenas “ouro”, mas “muito ouro fino”. E não diz apenas “mel”, mas usa a expressão “as gotas do favo”. Para Davi, viver segundo a vontade de Deus é incomparavelmente melhor para a vida do que muito poder e muito prazer!
Ele sabia disso e falhou em manter-se firme. Nós também. Mas podemos e devemos melhorar! Quando observamos uma dieta a damos preferência a alimentos mais saudáveis, e não necessariamente aos mais saborosos, estamos sendo sábios diante do dilema alimentar. Isso exige força de vontade – disciplina. Essa mesma sabedoria devemos demonstrar escolhendo fazer a vontade de Deus em lugar de nos guiar apenas pelo nosso coração. Todas as vezes que precisarmos escolher entre fazer a vontade de Deus ou satisfazer nossos desejos de poder, prazer, vingança ou quaisquer outros dos muitos possíveis que não agradam a Deus, se nós agirmos com sabedoria estaremos encaminhando bem a solução de nosso diante de um dilema de fé. Como no dilema alimentar, precisaremos dominar o nosso apetite. Podemos contar com a ajuda de Deus nos dois casos, mas a responsabilidade será sempre nossa. Devemos nos amar o bastante para escolher mais santidade e mais saúde. Isso também será uma atitude de amor a Deus. Nosso corpo também tem valor para Deus! Davi testemunhou sobre o melhor caminho. Dia a dia teremos os nossos dilemas. Que nós jamais nos esqueçamos do que é mais desejável e mais doce.