Riso

Riso

Acho que o riso acabou, porque a maioria entristeceu com a pandemia e o negacionismo e a rapidez do mundo. Quanto mais uma sociedade é desenvolvida, mais a sua fase é triste. O único local na terra que ainda solta a feliz risada é na África. Esta civilização que criamos nos últimos 100 anos, a civilização material, a política, a econômica, a social, matou o nosso riso. Tanto complicamos a nossa existência social pelo esforço prodigioso do capitalismo. O brasileiro de ação e de pensamento, hoje, está implacavelmente voltado a melancolia. O pobre brasileiro de ação, que todas as manhãs, ao acordar, sente dentro em si, acordar também o amargo cuidado do pão a adquirir, da situação social a manter, da concorrência a repelir. Poderá porventura afrontar o Sol com singela alegria? Não. Entre ele e o Sol está a pressa. Na vida, nada é de graça. A vida é um rolo compressor. E o Tempo sempre vence no final. Existe hoje um desperdício de tempo. Ah, sossego, sossego é meu desejo! Mas não o sossego no nada vazio e surdo, mas uma paz serena, preenchida por pensamentos bons e tranquilos e a indiferença infinita da natureza, onde o rio segue seu caminho sob o sol, e as flores continuam onde haviam florescido, para estão murchar e serem sopradas pelo vento, vejo como tudo, tudo, se curva à existência com muda resignação. Não enxergava na juventude esta falta de riso, e nem luz, nem sombra à minha frente, mas uma penumbra suave que se dissolvia de maneira quase imperceptível na escuridão mais ao fundo. E com um sorriso tranquilo e soberbo via os anos que ainda estavam por vir.

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