Reunir-se como igreja

“Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia.” (Hebreus 10.25)

A fé cristã é pessoal, mas não tem caráter individual. Ela não se apresenta como uma proposta de vida autocentrada ou privatizada. Seu mandamento central e fundamental é o amor. Amor a Deus e ao próximo. Não qualquer amor, mas deve ser de um tipo exclusivo para com Deus, que não se iguala a nenhum outro. E de um tipo inclusivo para com o próximo, que me leva a pensar no outro como penso em mim mesmo. Por isso o escritor de Hebreus esclarece aos cristão, especialmente aos de origem judaica, acostumados ao individualismo daquela fé, a desenvolverem o caráter comunitário. Eles não deveriam deixar de reunir-se como igreja. Na vida com Deus o outro importa agora. E importa muito. Nós, que chamamos o templo de igreja e vamos à igreja, precisamos redescobrir o lugar e significado da igreja. A menos que vivamos a dimensão do “uns aos outros” de nossa fé, como poderemos ter certeza de que vivemos a dimensão do “Deus conosco”?

Como posso afirmar que amo a Deus e me relaciono com Ele se não amo ao meu irmão e me nego a ele?(1Jo 4.20-21) Na fé cristã só há de fato boa relação com Deus se há boa relação entre eu e você. Deus não nos deixa um plano B. E o lidar e o conviver bem com o próximo começa com a família de fé (Gl 6.10). A carta Aos Hebreus, escrita ainda no primeiro século da era cristã, já combatia a tendência privatizadora do comportamento humano. Estamos vinte e um séculos à frente, numa era marcada pela individualidade. Em que consumimos e vivemos como uma massa, mas cujo eixo da vida cada vez menos é coletivo. Estamos nos incapacitando para relacionamentos. A fé cristã nos pede para olhar ao lado e ver o irmão. Mais que isso. Nos pede para irmos na direção uns dos outros. Para nos coletivizar e tornar nossa pessoalidade uma dádiva para o outro. Eis o caráter e o espírito da igreja.

Quem deseja a benção de Deus não pode abrir mão da presença e convivência com o irmão. Reunir-se como igreja é mais, bem mais, que ir “à igreja”. Quem apenas vai “à igreja” não conhece, de fato, o significado da fé que afirma ter. Nos reunirmos como igreja implica em reconhecermos, aceitarmos, amarmos e servirmos uns aos outros. Reunirmo-nos como igreja nos desafia a conhecer, conviver, abrir as portas da vida e da casa para sermos hospitaleiros. É assim que superaremos o comodismo próprio do nosso tempo, que é da mesma natureza do que estava sendo combatido em Hebreus, mas muito mais intransigente, escravizante e justificado pelo espírito de nossa época. Em lugar de presença, oferecemos ausência; de encorajamento, silêncio; de consciência sobre “o Dia”, dedicação exclusiva à própria agenda. Que costume tem sido o seu? De reunir-se ou deixar de faze-lo? Há uma igreja em sua vida?

 

 

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