Estive em Varsóvia. Uma vez descrita como a “Paris do Norte”, foi considerada uma das cidades mais bonitas do mundo até a Segunda Guerra Mundial.
Para os refugiados ucranianos o clima é sombrio, nos dois sentidos, temperatura, muito frio em março e desamparo, como em um filme noir. Eles agora, perdidos neste fluxo infinito de gente passando pela fronteira, simbolizam nossos piores medos: a perda de tudo conquistado ao longo da vida, a pobreza inesperada, o fim da segurança. É impossível fingir que nada está acontecendo. São refugiados que não são famintos, sem pão ou água. São pessoas que ontem tinham orgulho de seus lares. Hoje estou vendo esta verdade da guerra, através das minhas próprias lentes. Lentes essas que eram limitadas e cor de rosa até antes do início.
Então, de repente, com a passagem de quase dois milhões de refugiados foi como se as lentes tivessem despencado do meu rosto e eu subitamente conseguisse enxergar, em desconcertante preto e branco, da desconexão destas pessoas, de suas realidades, que comprometem o ser por inteiro, eles caem em si que estão longe do ambiente familiar, vão escutar a outra voz da mãe, do pai, do irmão, a que eles usavam quando viajavam, só que viajando a voz parece mais feliz, mas como refugiados, trasmite medo e solidão.
Engraçado como a mesma pessoa pode ser várias outras. Estes refugiados pensam agora que existem coisas na vida que eles não conheciam.