Wagner afirma disposição em pagar gratificação exigida por PMs grevistas.
Descartando anistia a ‘atos criminosos’, diz que medo é tática em ‘cartilha’.
O governador da Bahia, Jaques Wagner, afirmou na manhã desta terça-feira (7), em entrevista ao Bom Dia Brasil, que as negociações para o fim da greve dos policiais militares no estado começaram às 16h30 de segunda-feira (6), quando tropas do Exército e da Força Nacional cercaram a Assembleia Legislativa, em Salvador, onde os grevistas estão abrigados, e só terminaram durante a madrugada.
Wagner afirmou também estar disposto a conceder o pagamento da Gratificação de Atividade Policial (GAP) de nível 4, a principal exigência do movimento, mas diz não ter recursos para que o pagamento seja feito imediatamente. Atualmente, os policiais recebem a gratificação de nível 3, que é incorporado ao soldo para formar o salário final. Atualmente, um soldado da Bahia recebe entre R$ 1.900 e R$ 2.300.
A proposta levantada pelo governador é de que o valor da gratificação de nível 4 seja pago de forma diluída ao longo dos três próximos anos. É a primeira vez que Wagner fala na possibilidade de pagar o GAP 4. A proposta inicial do governo, que foi recusada pelos grevistas, era de aumento de 6,5%.
“Nós, ao longo de cinco anos, concedemos 30% de aumento real. E eu tenho limite na folha. As negociações são em torno desse valor, da chamada GAP 4 e eventualmente até da GAP 5, mas evidentemente isso terá que ser partilhado ao longo de 2013, 2014 e até 2015. Se for para pagar alguma coisa imediatamente agora, não há menor espaço, porque eu não tenho espaço fiscal para fazê-lo”, afirmou o governador.
Negociações
Segundo ele, as negociações para o fim da paralisação começaram às 16h30 de segunda e se estenderam até as 2h desta terça-feira. As conversas para o fim do movimento devem ser retomadas nesta manhã, a partir das 10h.
“Eu posso lhe garantir que uma negociação que começou às quatro e meia da tarde e se estendeu até as duas e meia da manhã, é um ótimo sinal. Quando as coisas não andam, as negociações se interrompem rapidamente”, disse. “A extensão da reunião é um sinal de que estamos no caminho de encontrar uma saída negociada”, acrescentou.
Anistia
O governador descartou conceder anistia aos grevistas que realizaram o que chamou de “atos criminosos”, mas minimizou os atritos. “Anistia se concede em um regime de exceção e de guerra, e estamos em uma democracia. Conceder anistia seria um salvo-conduto (para atos criminosos).”, afirmou.
“Evidente que aqueles que fizeram atos que não compactuam com a democracia, que violentaram a lei, que depredaram patrimônio público, que de arma em punho ameaçaram a população dentro dos ônibus, esses seguraramente terão que ser processados se não seria um salvo-conduto para que que qualquer movimento reivindicatório pudesse se utilizar do que quisesse”, acrescentou.
Vandalismo
“Todos aqui que participaram de vandalismo, que depredaram ônibus, e acabaram trazendo esse transtorno, porque, na verdade, muito para além do movimento, o que cria esse transtorno é esse medo e a violência de alguns que sobem em moto, atiram pra cima, andam encapuzados. Moradores de rua foram mortos, não tenho como acusar e dizer foi esse ou aquele, mas é óbvio que essa faz parte inclusive de uma tática”, criticou.
“Esse movimento já é o 10º estado em que acontece. Eles têm como pano de fundo a chamada PEC-300 e eles têm inclusive uma cartilha e nessa cartilha fica claro que a ideia é criar o pânico, amedrontar a todos, inclusive o governo do estado, para auferir aquilo que querem”, disse.
“O meu chamamento é aos profissionais da segurança pública, que não deixem a população a descoberto. A nossa missão é a missão de garantir a segurança pública e nós devemos fazê-lo mesmo em momentos em que a gente está pedindo maiores salários. Eu insisto que o carnaval está chegando, nosso interesse é que rapidamente se bata o martelo na mesa de negociação e eu tenho convicção de que isso vai acontecer”, acrescentou Wagner.
Tensão
Por volta das 20h, os grevistas reagiram à ampliação dos cordões de isolamento que têm sido mantidos pelos militares das Forças Armadas desde o começo desta tarde. Enquanto a maioria dos soldados manifestantes se concentrava na rampa de acesso à Casa, um deles ameaçou, a bordo de um carro, invadir o primeiro e maior cordão, construído na tentativa de afastá-los de qualquer contato externo.
O condutor do carro se aproximou dos policiais do Exército, ligou o farol alto e depois recuou. Mais policiais montam um segundo cordão, menor, dentro do primeiro. No mesmo momento, centenas de homens da Companhia de Polícia de Ações em Caatinga e dezenas ônibus do Exército passaram pela área da Assembleia.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) fechou os acessos ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), tanto da Avenida Paralela quanto pelo bairro Cabula, desde a manhã desta segunda. Segundo o órgão, eles não podem mais receber alimentos e bebidas. No espaço em que acampam, podem ser visto estoques de mantimentos, principalmente de água.
O comandante-geral da PM, Alfredo Castro, representantes da categoria e o arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, estão reunidos para tentar negociação.
Conflito
Desde o início desta segunda, cerca de 600 homens do Exército, além de 40 agentes do Comando de Operações Táticas (COT) isolam a área na tentativa de garantir a livre circulação e o funcionamento do Centro Administrativo da Bahia (CAB). O isolamento da área também visa facilitar o cumprimento pela Polícia Federal de 11 mandados de prisão contra integrantes do movimento grevista.
Mais cedo, a presença dos manifestantes no local gerou conflito com os homens que fazem o policiamento na região. Tiros de borracha chegaram a ser disparados contra o grupo, que avançou na direção dos soldados. Os manifestantes passaram a se posicionar em frente ao jardim da Assembleia e a cantar em protesto contra o policiamento.
Dirigente da associação de PMs é preso
Um soldado da PM e dirigente da Associação dos Policiais, Bombeiros e dos seus Familiares do Estado Bahia (Aspra) foi preso na madrugada de domingo (5), segundo o governo do estado, e encaminhado à sede da Polícia do Exército, na Avenida Paralela, em Salvador.
O PM é lotado na Companhia de Policiamento de Proteção Ambiental (COPPA). Segundo o governo, ele é suspeito de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público, referente à retenção das viaturas. A prisão dele é a primeira cumprida dos 12 mandados de prisão expedidos pela Justiça da Bahia contra integrantes do movimento grevista.
Negociação
O governo ofereceu, na noite de domingo (5), reajuste de 6,5% a partir do dia 1º de janeiro aos PMs em greve, segundo o secretário de comunicação Robson Almeida. Ele disse ainda que a proposta não oferece anistia aos policiais que tiveram prisão preventiva decretada. O governo informou também que está aberto a negociações com os PMs, desde que eles suspendam a greve. O líder do policiais militares em greve na Bahia, Marcos Prisco, disse nesta segunda-feira (6) que a categoria rejeitou a proposta do governo. “Essa proposta é linear e vale para todos os servidores públicos. Ela já foi feita e recusada há duas semanas”, afirmou.
Fonte: G1